quarta-feira, 4 de novembro de 2009

CORAÇÃO AO VENTO

Caetano Veloso como se nunca viu é mostrado sem censura no documentário "Coração Vagabundo", dirigido por Fernando Grostein Andrade

Fernando Grostein Andrade, 28 anos, faz sua estreia em longa-metragem com o documentário "Coração Vagabundo". Nele, Caetano Veloso aparece cândido em suas aparições em São Paulo, Nova York, Tokio e Kioto durante a turnê "A Foreing Sound", fruto do álbum do cantor gravado todo em inglês. O filme chega às locadoras e lojas no dia quatro de novembro. Andrade conversou com o NO MUNDO DO CINEMA, em que dá mais detalhes sobre a experiência de conviver com um grande nome da Música Popular Brasileira.

Você dirigiu o clipe do Caetano Veloso da música Você Não me Ensinou a Te Esquecer (trilha sonora do filme Lisbela e o Prisioneiro). Foi desse encontro que surgiu a ideia de fazer Coração Vagabundo?
ANDRADE -
Foi esse encontro que provocou a série de eventos que levou ao Coração Vagabundo. Primeiro eu fiz esse clipe e como o trabalho foi super bem, a equipe me chamou para fazer o DVD musical do show A Foreing Sound. Durante o making of do DVD, eu estava com o Caetano em Nova York, ele estava fazendo um grande sucesso no exterior com uma série de shows no Carnegie Hall, matéria de página inteira no The New York Times... Aí o Caetano falou que na entrevista que ele deu ao Charlie Rose, grande entrevistador americano, ele se sentiu um provinciano: “Eu sou de Santo Amaro, eu vivi em Santo Amaro até os 18 anos de idade, não sou um cara de São Paulo que já nasceu achando que está no mundo”. Eu senti uma emoção muito forte e enxergava uma história pela qual me apaixonei, que é a história de um grande músico brasileiro, lançando um disco em inglês, fora do Brasil, fazendo sucesso e que não se sentia a vontade com isso, porque veio de uma cidade pequena. Eu achei isso muito interessante e me apaixonei pela ideia e comecei a fazer o filme.

Que Caetano você quis mostrar no documentário?
ANDRADE -
Quando eu comecei a fazer esse filme eu tinha 23 anos, o Caetano, 62. Eu nunca, nem de longe tive a pretensão de querer explicá-lo ou querer defini-lo porque eu não tenho escopo para isso. O que eu quis fazer foi mostrar um olhar sobre um momento da vida dele e de uma viagem de lançamento do disco. Quem vê o filme tem a sensação que está viajando com um amigo. É uma coisa bem leve e emocionante quando temos a participação do Antonioni, que foram as últimas imagens do cineasta em vida. As pessoas se emocionam nessa parte.

Como foi a sua interação com o Caetano durante as filmagens?
ANDRADE -
O filme foi feito praticamente com uma equipe de duas pessoas. Isso somado a ideia de não fazer uma entrevista com o Caetano, mas só filmar ele, criou um ambiente mais intimista e favorável a uma relação de amizade.

Como você avalia o mercado cinematográfico nacional, já que você é um diretor estreante?
ANDRADE -
Eu estou chegando agora e tenho a impressão que a indústria brasileira está amadurecendo, com produtos que conseguem aliar o lado artístico com o lado comercial. Eu comecei minha carreira em um momento em que dá para sonhar. Um tempo atrás isso era algo totalmente impensável. Graças a Andrucha Waddington, Fernando Meirelles, Guel Arraes, Hector Babenco dá para sonhar em fazer cinema. Eu cheguei no mercado no momento em que a parte mais difícil já tinha sido resolvida pelos nossos mestres.

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