sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O VOO DO BESOURO

Com boas cenas de ação e golpes de capoeira, Besouro aterriza nos cinemas

“O besouro é preto que nem eu, mas voa”. É assim que o menino Manoel se identifica com o inseto. O filme "Besouro" traz a história deste garoto, nascido em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano (BA). Ele cresce e suas proezas físicas com a incrível agilidade na capoeira fazem dele, como o bicho, voar literalmente. Por isso, o apelido se torna seu novo nome: Besouro Mangangá. O Mangangá é uma espécie de besouro que provoca uma dolorosa ferroada. Besouro é assim. Em uma luta, briga de forma ágil e depois some. Ele fica popular e consequentemente vira o herói de um povo reprimido pela pobreza e o preconceito.

Besouro tem como inimigo o Coronel Venâncio, assassino de se seu grande guia, Mestre Alípio. Mas para enfrentar o Coronel, Besouro terá de se preparar e muito. No meio da mata ele se recolhe. Lá ele encontra as suas forças pelo poder dos Orixás. “Os fragmentos da história falavam que ele tinha uma relação com o sobrenatural, que ele tinha o corpo fechado, nem uma faca ou bala o atingia. Isso é o que me encantou no personagem e então eu viajei nas asas do Besouro”, declara João Daniel Tikhomiroff, diretor da produção.

O filme aborda dois pilares da cultura afro-brasileira, o candomblé e a capoeira e apresenta esses elementos ao público de forma criativa, expondo figuras míticas, além das coreografias de capoeira. A produção é alegórica, os golpes de capoeira ganham contornos fantásticos para fazer de Besouro um ser intocado.

O longa chama atenção justamente por causa das cenas de ação. Em meio a chutes, Besouro ganha “asas”, dá piruetas no ar, pula, voa. “As referências que eu tinha de beleza coreográfica de ação eram os filmes "O Tigre e o Dragão", "Matrix", "Herói" e "Kill Bill". E aí o produtor, Caíque Martins Ferreira chamou o coreógrafo Dee Dee, que tinha feito todos esses filmes. No meu encontro com ele, levei vídeos de capoeira. Na preparação houve um respeito muito grande aos golpes. Ele criou coreografias maravilhosas que tinham a ver com a capoeira”, explica Tikhomiroff. A produção faz uma licença poética para expor a beleza da capoeira em um filme de ação que se passa nos anos 20.

Antes do lançamento de "Besouro", houve uma forte repercussão pela internet. O trailer estreou no portal "G1" e uma hora depois, uma versão já estava no site "YouTube". “Por contrato o trailer seria exibido por apenas uma hora no portal 'G1'. Depois alguém gravou a imagem que estava no portal, colocou no 'YouTube' e virou um fenômeno”. Em apenas três dias, o trailer foi visto mais de 180 mil vezes.

O diretor entregou o roteiro para a Mãe de Santo Carmem na Bahia. “Mãe Carmen fez uma reza para mim e disse que eu estava liberado para fazer o filme”. "Besouro" recebeu a benção de Mãe Carmem e agora tem a chance de receber a benção dos espectadores no dia 30 de outubro.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

NO PALCO DO CINEMA

Filmes e peças de teatro caminham de mãos dadas em diversas adaptações para as telas e para os palcos

O cinema é uma arte, na verdade ela é considerada a sétima arte numa lista de onze: música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura, cinema, fotografia, história em quadrinhos, videogame e arte digital em 2D e 3D. Atualmente essas mídias se misturam numa arte simbiótica numa jornada de adaptações sem fim. O cinema dialoga com todas as outras artes. O teatro é uma delas. Elas se alimentam uma da outra em centenas de filmes e peças.

O teatro surgiu na Grécia Antiga, no séc. IV a.C., com a representação de lendas referentes a deuses e heróis. O teatro é o local físico onde se realiza o drama frente à uma audiência. O grande cineasta francês Georges Méliès (1861-1938) é considerado por historiadores como aquele que levou o teatro para o cinema. Ele tinha uma sala de teatro chamada Robert Houdin. Lá ele encenava histórias simples sobre o cotidiano.

Em 1895, com o advento do cinema pelas mãos dos irmãos Auguste e Louis Lumière, Méliès passou no ano seguinte a realizar suas primeiras produções cinematográficas. A inspiração teatral está presente em seus filmes, caracterizado pelo plano fixo, em que não há movimentação da câmera, a construção do quadro (ambiente da cena) e a interpretação dos atores bem marcada e exagerada para explicitar ao público o que acontecia, já que na época os filmes eram mudos. Ele se especializou em fazer filmes com efeitos especiais como o fantástico "Un Homme de Têtes" (1898).

Com o passar dos anos tanto o teatro como o cinema ganharam linguagens próprias, mas mesmo assim seguindo uma relação estreita. Muitas das obras do escritor William Shakespeare foram parar no teatro como "Romeu e Julieta" e "Sonho de uma Noite de Verão". E consequentemente as peças foram parar no cinema. O ator e diretor Lawrence Olivier se enveredou nesse campo adaptando obras teatrais de Shakespeare para o cinema: "Hamlet" (1948) e "Ricardo III" (1955).

Dentre os elementos que diferenciam o cinema do teatro estão no espaço da presença ao vivo do ator e da plateia havendo a interação entre eles. No cinema se expande o espaço cênico, criado pela movimentação dos atores, já no teatro se trabalha com o espaço limitado. No cinema só se vê o que o enquadramento da câmera mostra. No teatro o espectador quem escolhe o que quer ver. No cinema há o paralelismo em que duas ou mais histórias acontecem ao mesmo tempo gerando fluência para quebrar a ideia de teatro. No cinema, o primeiro plano (enquadramento do tronco à cabeça) serve para a construção do drama. No teatro se vê o chão, o teto, e os atores.

ADAPTAÇÕES
Quanto a adaptação de uma peça de teatro para o cinema, o que se deve observar é como o diretor define a sua visão da peça para o filme. Para exemplificar, a peça "Boca de Ouro" (1960), escrita por Nelson Rodrigues começa em um consultório no qual o personagem principal, Boca de Ouro pede ao dentista que extraia todos os seus dentes e substitua por uma dentadura de ouro. No filme, de 1962, o diretor Nelson Pereira dos Santos opta por começar com um prólogo em que se inventa uma bibliografia do Boca que na peça não existe.

Muitas obras teatrais foram adaptadas para o cinema e vice-versa. Este ano passaram pelos palcos brasileiros a adaptação de "Madame Satã", que narra a trajetória de João Francisco dos Santos, um malandro transformista, homossexual e bom de briga, que se tornou figura emblemática na noite carioca. No cinema ele foi vivido por Lázaro Ramos. Outra produção que virou peça foi "Salò ou os 120 Dias de Sodoma", clássico do diretor italiano Pier Paolo Pasolini em que jovens são submetidos a diversas formas de tortura e humilhação em ciclos intitulados de Círculos da Mania, Merda e do Sangue.

A peça "Novas Diretrizes para Tempos de Paz" ganhou sua versão para o cinema, chamada "Tempos de Paz". Os atores Tony Ramos e Dan Stulbach que contracenaram no teatro entre 2002 e 2003, reprisam seus personagens no longa dirigido por Daniel Filho. O sucesso cinematográfico "Divã", também é uma adaptação teatral com a atriz Lília Cabral nas duas versões. O filme "As Pontes de Madison" (1995) com Clint Eastwood e Meryl Streep tem atualmente sua versão teatral em São Paulo. Os atores Marcos Caruso e Jussara Freire estão nos papéis principais na história de amor entre um fotógrafo e uma dona-de-casa casada. A peça fica em cartaz até o dia 20 de dezembro.

INFANTIS E MUSICAIS
Um público que tem muitas opções de filmes adaptados para o teatro é o infantil. Desenhos animados da Disney como "A Bela e a Fera", "A Pequena Sereia" e "A Dama e o Vagabundo" encantam a criançada. Da televisão para os palcos há "Cocoricó, uma Aventura no Teatro" e "Pucca Ao Vivo". E a aventura "Homem-Aranha: Ação e Aventura" empolgará a garotada com os saltos e voos do aracnídeo no Rio de Janeiro até o dia oito de novembro.

O musical é outro gênero de sucesso no teatro. O Brasil cultiva a onda de adaptação de filmes musicais americanos que por sua vez são adaptações de espetáculos apresentados na avenida Broadway, em Nova York. Em 2004, a atriz Danielle Winits encarnou a sensual Velma Kelly no musical "Chicago", que era uma peça americana e que também ganhou uma esplendorosa versão cinematográfica ganhadora de seis Oscar em 2003, incluindo melhor filme.

Os musicais da Broadway, "Os Produtores" e "Hairspray" são sucessos recentes nos palcos brasileiros. E o responsável pelas adaptações é o multifacetado Miguel Falabella. O filme "Primavera para Hitler" (1968) de Mel Brooks, foi adaptado para o teatro nos Estados Unidos em 2001 e em 2005 ganhou uma nova versão para o cinema. No Brasil, Falabella se inspirou no espetáculo musical, que fez enorme sucesso no ano passado.

A atual empreitada de Falabella é "Hairspray", adaptação do musical de mesmo nome, que ganhou uma adaptação para o cinema, com John Travolta na pele da mãe protetora Edna Turnblad. Por aqui, a peça tem Edson Celulari vivendo o mesmo personagem que Travolta interpretou no filme. Para quem mora no Rio de Janeiro e quiser conferir a peça aproveite, pois o musical foi prorrogado até o dia 1° de novembro. Cinema e teatro, duas artes que com suas linguagens próprias acabam em um bom casamento no território das adaptações.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

ESQUENTANDO AS TURBINAS

Leon Cakoff fala sobre a 33° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, evento que começa dia 23 e vai até 5 de novembro

Os cinéfilos de plantão terão um grande motivo para passarem duas semanas dentro de uma sala escura. É a 33° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece entre 23 de outubro e 05 de novembro numa maratona com o que há de melhor na cinematografia mundial. Leon Cakoff, organizador da Mostra de Cinema conversou com o NO MUNDO DO CINEMA sobre o evento que tem mais de 500 filmes selecionados. Dentre os destaques estão "Crimes de Autor" (França), "O Amor Segundo B. Schianberg" (Brasil), "Sede de Sangue" (Coreia do Sul), "Super Star" (Irã), "Metropia" (Suécia) e "500 Dias Com Ela" (Estados Unidos). Filmes de todos os cantos do mundo para todos os gostos.

O senhor pode adiantar o que haverá na 33° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo?
LEON CAKOFF -
O circuito de salas vai se expandir contando agora com o Multiplex Marabá para exibir os filmes da Mostra. A lista dos filmes que vão participar ainda não foi fechada, ainda estamos selecionando as produções. Este é o momento mais nervoso. Estamos correndo contra o tempo. E a vontade é de nunca fechar a lista de selecionados (risos), de fazer uma Mostra permanente.

Há alguma novidade nesta 33° edição?
CAKOFF -
O que estará agregado a Mostra este ano é o Prêmio Itamaraty para o Cinema Brasileiro. Este é o quarto ano do Prêmio. Antes ele tinha como sede o Festival Internacional de Cinema de Brasília. E agora vem para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. É um prêmio itinerante.

O que dá para adiantar?
CAKOFF -
Há coisas muito boas da Alemanha, Israel, França como sempre, Coreia, Canadá, Estados Unidos, Itália, Egito. Vem muitos filmes da Suécia. A ideia é trabalhar um acordo de co-produção entre Brasil e Suécia.

Para esta edição, quem são os convidados?
CAKOFF -
O cineasta Amos Gitai vem para a Mostra apresentar dois filmes. Há também a Fanny Ardant como diretora estreante e Theo Angelopoulos, que será um dos homenageados da Mostra. E muita gente nova. Essa é a nossa cara.

Quanto ao júri, como ele será composto?
CAKOFF -
São cinco personalidades internacionais compondo o júri. Ele ainda está em composição, estamos aguardando algumas respostas. Confirmado temos o crítico francês Jean-Michel Frodon, os diretores Goran Paskaljevic ("Os Otimistas") e Ali Özgentürk (que participou da 7° edição da Mostra com o filme "Cavalo" – 1982) e também o Marco Bechis, diretor italiano de filmes como "Terra Vermelha", "Garagem Olimpo". Ele é muito ligado a América Latina, já filmou temas com argentinos, brasileiros.

Como o senhor vê o cinema nacional que teve um crescimento de público em 2009?
CAKOFF -
Não importa o filme que está passando, o que interessa é estimular o hábito de ir ao cinema. Cinema é fundamental, um alimento para o espírito que não tem igual e é uma diversão. Recuperando este hábito o lucro é de todos, de toda a indústria cinematográfica, incluindo a independente. Ela também faz parte que é onde está o fermento das ideias.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

BOLO EM CAMADAS

Já foi o tempo que filmes infantis eram só para crianças. Hoje essas produções conseguem agradar a espectadores de todas as idades

Outubro é o mês que comemora o Dia das Crianças. E dar um presentinho para a criançada é obrigatório. Mas quando o assunto é cinema quem é presenteado não são só as crianças, mas também os adultos. Cada vez mais os filmes, em especial as realizadas pela indústria de Hollywood conseguem atingir diversas faixas etárias com suas produções. Os roteiros desses filmes são concebidos de maneira que seu variado público aprecie o filme de diferentes formas.

Enquanto os pequeninos se divertem com as trapalhadas dos personagens, os jovens e adultos se deleitam com o conteúdo repleto de piadas, ironias, referências e sátiras à sociedade. “Os roteiros são cuidadosamente pensados para que o adulto também curta o filme, e para que ele saia do cinema recomendando o filme para outros adultos, que levem seus filhos, e assim por diante numa corrente que vai engrossando as bilheterias”, afirma Celso Sabadin, crítico de cinema.

Muitos filmes do gênero estão longe de serem produções genuinamente infantis. As animações realizadas atualmente conseguem agradar a todas as faixas etárias. Já foi o tempo que os pais se martirizavam ao acompanhar seus filhos nas matinês da vida. “Mesmo que o filme seja para o público infantil, os produtores sabem que aborrecer um adulto com um roteiro fraco é péssimo negócio para as bilheterias”, declara o crítico de cinema.

A trilogia "Shrek" é um ótimo exemplo de como se consegue agradar as crianças e em especial os adultos. O ogro verde diverte a molecada com suas confusões em companhia do Burro e do Gato de Botas. Já os adultos se deliciam com o humor da história. Tanto é que em janeiro deste ano, uma empresa de pesquisas da Grã-Bretanha indicou que o primeiro filme da trilogia é a produção infantil favorita dos adultos.

A animação é o gênero que consegue muito bem ganhar um público tão diversificado. Os desenhos, em especial os realizados pela Disney/Pixar como "Monstros S. A.", "Procurando Nemo", "Carros" e "Wall-E" são experts nisso. As aventuras e o colorido das imagens chamam a atenção das crianças. Já para conquistar o coração do restante do público a peça chave é a caracterização e a humanização dos personagens. Ver animais falando, objetos criarem vida e eles demonstrarem sentimentos é algo que toca fundo no coração. Quem não se encantou e até derramou algumas lágrimas com o monstro Sulley, o peixinho Nemo ou o robô Wall-E que levante a mão.

Criança ou Adulto?

Na verdade, o que se percebe é que na indústria cinematográfica americana está havendo uma inversão de papéis. Tem-se uma adultização de produções infantis e uma infantilização das produções para adultos. A meta dos blockbusters é sempre ganhar muito dinheiro nas bilheterias. Com isso, os produtores tentam a todo custo, lançarem os filmes com uma classificação etária baixa, para um maior número de pessoas poder ir assisti-las. Resultado: os filmes ficam mais infantis, sem cenas fortes e com histórias bem “mastigadas”, apelando para as gracinhas.

Sabadin explica que isso acontece desde os anos 50 quando nos Estados Unidos a televisão provocou uma forte divisão no público. Os mais velhos e os de meia idade começaram a ficar mais em casa, vendo TV, enquanto os mais jovens e adolescentes continuaram nas ruas, indo aos cinemas. Dessa forma o crítico fala que os produtores perceberam que a grande plateia que lotava os cinemas do país era formada basicamente por jovens. “Desde aquela época, então, o cinema vem se infantilizando”.

Assim se passou a produzir filmes voltados para este público. Exemplos não faltam todos os anos. Da safra 2009 dois bons exemplos mostram essa tendência: "Transformers: A Vingança dos Derrotados" e "G.I. Joe: A Origem de Cobra". “De lá para cá, os temas se simplificaram, os filmes ficaram mais simplistas, a idade média dos atores-protagonistas desabou. O que é, hoje, um blockbuster? É um filme feito para quem gosta de pipoca, não para quem gosta de cinema. Isso porque o lucro está na pipoca, não no cinema. É só uma questão mercadológica”, analisa Sabadin. Independente da idade do espectador, a certeza está na qualidade das produções e na diversão do público cada vez mais diversificado.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

BANDO DE BASTARDOS

Quentin Tarantino junta forças com Brad Pitt para levar a história sobre uma matança de nazistas na Segunda Guerra Mundial em “Bastardos Inglórios”

“Nós vamos fazer apenas uma coisa: matar nazistas”. Com essa frase vinda do novo filme de Quentin Tarantino, o que se pode esperar é justamente muita matança. Uma matança sanguinolenta e genial em "Bastardos Inglórios". É isso que Tarantino em geral proporciona ao espectador em suas obras. Muitas delas já se tornaram clássicos contemporâneos como "Cães de Aluguel", "Pulp Fiction - Tempos de Violência" e "Kill Bill: Volume 1".

Tarantino é um dos mais interessantes diretores do cinema americano. Seus filmes são um show de direção e roteiro e possuem uma linha narrativa e estética vinda de influências cinematográficas e pop. Suas obras sempre possuem diálogos com altas doses de humor negro, as histórias são não lineares, os personagens possuem ligações entre si e os filmes são contados em capítulos. A trilha sonora pulsante é um personagem à parte e a violência sanguinolenta a principal marca de Tarantino. Com "Bastardos Inglórios" não é diferente. Brad Pitt se junta a Tarantino para contar a versão do diretor sobre a Segunda Guerra Mundial e nada mais adequado do que tratar a violência explorando o capítulo do Nazismo.

Numa França ocupada pelo exército alemão, um grupo de renegados soldados americanos e judeus conhecidos como Os Bastardos, estão prontos para dar aos nazistas o que eles merecem. Sim, judeus matando nazistas! O grupo é liderado pelo tenente Aldo Raine (Pitt) que faz apenas uma exigência aos seus soldados: trazer a ele 100 escalpos de nazistas. É uma tradição como a dos índios da América, que cortavam o escalpo e usavam como troféu de guerra. O grand finale do plano é uma matança em um cinema em Paris, que reúne a nata nazista, incluindo o líder Adolf Hitler, que se reúne para a pré-estreia de um filme. Definitivamente, uma ideia muito original vinda da mente de Tarantino para o fim da Segunda Guerra.

Para a missão, o grupo de Raine acaba tendo como nova integrante a atriz alemã e espiã disfarçada Bridget Von Hammersmark (Diane Kruger). Paralelo a isso, a jovem Shosanna Dreyfus testemunha a execução de toda a sua família pelas mãos do coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz). A moça escapa e viaja para Paris, com a forjada identidade de dona e operadora de um cinema. Os fatos acabam cruzando os caminhos de Os Bastardos com os de Shosanna, enquanto ela planeja sua vingança sozinha.

Tarantino escreveu o roteiro de "Bastardos Inglórios" com a intenção de fazer um misto de filme de guerra com Spaghetti Western, popularmente conhecido por Bang Bang à Italiana, que traz a vingança como tema principal. O capítulo 1: “Era uma Vez... Uma França Ocupada por Nazistas” é belíssimo, uma verdadeira aula de cinema. A fotografia esplendorosa situa o espectador no ano de 1941 em uma casinha na França. Tarantino faz uma longa sequência em que o coronel Landa faz uma inspeção para saber se não há nenhum judeu escondido na casa do agricultor Perrier LaPadite (Denis Menochet). Os dois conversam “pacificamente” em um belo tom francês. Quando a conversa fica mais tensa, Landa pede licença para falar em inglês, já que o que tem a dizer não é algo agradável de se dizer na outra língua. Os atores estão maravilhosos. O prêmio de melhor ator que Waltz levou no Festival de Cinema de Cannes foi merecido. No final da cena há um enquadramento de moldura que vale a pena ser admirado.

"Bastardos Inglórios" é violento, mas não da forma exagerada e frenética como em "Kill Bill: Volume 1", por exemplo. Neste novo filme Tarantino está mais maduro. O filme é um espetáculo em todos os elementos cinematográficos. O diretor coloca em prática o fascínio que tem pelo cinema e faz seu melhor filme até agora. Ele utiliza planos longos, dando tempo para a ação se desenrolar . Cada ator explora de forma magnífica sua veia interpretativa e Tarantino também faz um resgate aos longos diálogos, cada linha talhada com precisão. O filme todo vale o apreço em seus mínimos detalhes.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

QUANTO DURA O AMOR?


Quanto Dura o Amor? É essa pergunta que o filme de mesmo título faz para o espectador. Em São Paulo, três pessoas vão vivenciar histórias de amor com prazo de validade para acabar. Marina, é uma jovem do interior que se muda para São Paulo e tenta se realizar como atriz. Lá ela vai dividir um apartamento com a advogada solitária, Suzana. No mesmo prédio vive o escritor Jay. São eles os personagens de um quebra-cabeça amoroso.

Na noite paulista, Marina conhece a cantora Justine e fica deslumbrada com ela. No dia dia do trabalho, Suzana e o colega Gil começam um namoro. E Jay se encanta com a prostituta Michelle. Cada um vai experimentar o gosto doce e amargo do amor. O filme foge de clichês românticos e mostra que alguns relacionamentos estão fadados ao fracasso e que isso faz parte da vida. Paixão, obsessão, ciúme, preconceito e cobiça são os ingredientes desta história. Afinal, nada é perfeito.

DUAS DOSES DE BUTLER


O bonitão Gerard Butler retorna com dois filmes: “A Verdade Nua e Crua” e “Gamer”. Cabe a você decidir qual tipo vai querer: um cafajeste que arrasa corações ou um herói com cara de poucos amigos. Se o seu caso é ir ver algo despretensioso, a pedida é “A Verdade Nua e Crua”. Nesta divertida comédia romântica, Butler interpreta Mike, um apresentador de TV que passa dicas machistas aos telespectadores. Ele surge no caminho de Abby, uma mulher romântica que trabalha como produtora de TV. Seus temperamentos vão bater de frente e provocar muitas farpas entre eles. Mas claro que os dois acabam se entendendo. “A Verdade Nua e Crua” é leve e adorável como toda boa comédia romântica deve ser.

Num futuro próximo, a febre são jogos de videogame em que os personagens são pessoas reais. O jogo Slayers dá ao jogador o controle total do ser humano em combates de tiro. Os personagens são prisioneiros, que se morrerem pouca falta farão. Mas Kable (Gerard Bulter) é diferente. Em todas as batalhas ele se safa para uma próxima etapa. Se Kable conseguir vencer 30 batalhas ele conquista a liberdade. É esta a regra de “Gamer”, novo filme da dupla de diretores/roteiristas Neveldine e Taylor, que haviam trabalhado juntos na bomba “Adrenalina”.

“Gamer” segue a mesma linha de “Adrenalina” com situações absurdas e até embaraçosas, uma ação incessante e fotografia granulada. O filme tem ação contínua, mas o problema de “Gamer” está no roteiro. A ideia de personagens de videogames serem reais é boa, mas acaba sendo muito confusa. Muitas coisas que acontecem na trama ficam sem explicações, cheias de arestas. Os personagens são muito caricatos. E o embate entre Kable e o vilão Ken Castle (Michael C. Hall, do seriado “Dexter”) não empolga.

O vilão é um caso a parte. O ator Michael C. Hall está canastrão, muito exagerado na pele de Castle. Ele é o responsável por uma das cenas mais estranhas do filme. Cantando “I’ve Got You Under My Skin”, de Frank Sinatra ele e seus capangas fazem uma coreografia antes de atacarem Kable. “Gamer” é um trem fora de controle. Neveldine e Taylor precisam de um freio para impedir que um absurdo como “Gamer” ganhe vida.

MULHER, O SEXO FORTE

"Salve Geral" que chega aos cinemas, vai muito além dos ataques do PCC ao mostrar a luta de uma mãe pela vida do filho

12 de maio de 2006, Dia das Mães. Esta data que era para ser de comemoração, se tornou um terror no estado de São Paulo. A capital parou. Tudo porque o líder da organização criminosa paulistana, Primeiro Comando da Capital (PCC) ordenou um “salve geral” que na gíria dos presos significa: dar o recado. O recado é dado e ataques são realizados com a invasão de delegacias, incêndio à ônibus e ameaças de bomba em aeroportos. O movimento acabou se alastrando também para outros estados como Mato Grosso e Paraná.

O filme "Salve Geral" explora este acontecimento pelo viés do olhar feminino frente a esta situação de caos. Rafa (Lee Thalor) é filho de Lucia (Andréa Beltrão), que é uma professora de piano. Em uma briga, ele acaba matando uma jovem. Rafa é condenado e a mãe vai procurar uma saída para que o filho tenha a sua pena diminuída. Durante as visitas ao filho na prisão, Lucia conhece a advogada Ruiva (Denise Weinberg). Ela presta serviços ao Professor, líder do Comando. Lucia percebe que Ruiva é mais do que uma advogada, com um papel importante na organização criminosa. A professora de piano pensando no futuro do filho, vai para o mesmo caminho.

Lucia e Ruiva são as peças centrais deste jogo perigoso em um mundo guiado pelos interesses. “No começo a Lucia não tem nada a ver com aquele mundo. Ela não entra ingenuamente, ela é tragada pela situação. Lucia tem uma precisão cirúrgica porque o filho dela está na boca do leão, então qualquer passo em falso ela vai perdê-lo para sempre. Ela parece doce, mas não é menos forte por isso. Pessoas doces podem ser excessivamente fortes e valentes”, declarou a atriz Andréa Beltrão em entrevista coletiva.

Para o diretor Sérgio Rezende, Lucia é o fio condutor do filme, uma mulher que vive no mundo da sensibilidade, meio no mundo da lua tocando piano, e que acaba numa linha muito tênue entre o bem e o mal. Para ele, as mulheres da história são o centro do filme. “É interessante mostrar o choque entre essas duas mulheres que jogam o jogo sem choradeira. A pretensa fragilidade das mulheres fica mais forte quando se mostra o oposto”, afirmou o diretor.

A atriz Denise Weinberg completa dizendo que não há um lado bom ou ruim. “No filme tudo é possível. Você pode sair na rua e sua vida virar do avesso. Estamos em uma época muito fugaz em que as coisas são o aqui e agora. Não dá muito para se planejar. Se o jogo é esse então vamos jogar ele agora”. Lucia e Ruiva lutam pela conquista da posição de comando neste jogo permeado pela violência, medo e sobrevivência.