quinta-feira, 25 de junho de 2009

SAMBA DO CRIOULO DOIDO

O que a ambição, a vaidade e alguns milhares de dólares a mais fizeram de “Transformers: A Vingança dos Derrotados” um desastre

Em 2003, “Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra” tomou todos de surpresa ao resgatar um gênero naufragado: o de pirata. A união da ação com a comédia fez um estardalhaço nas bilheterias e até rendeu a Johnny Depp uma indicação ao Oscar. Três anos depois chegava a segunda parte da série: “Piratas do Caribe - O Baú da Morte”. Junto com ele veio a enxurrada de críticas a produção. E não era pra menos. A produção na gana de querer ficar mais grandiosa que o primeiro encheu a tela de cenas inúteis, cenários suntuosos, muitos efeitos, batalhas tediosas e uma forçação de barra por parte do elenco em querer ficar muito engraçado. O filme é ruim, mas mesmo assim fez boa campanha nas bilheterias.

“Transformers” vive uma história parecida. O primeiro filme da franquia, lançado em 2007 foi um sucesso estrondoso ao adaptar o conceito dos brinquedos da Hasbro (carros que se transformam em robôs) em um longa-metragem. As sequências de transformação dos carros eram inacreditáveis. A aposta em um elenco até então desconhecido também foi muito acertada. Além disso, fez o mesmo que “Piratas”: unir a ação com a comédia.

Eis que agora chega aos cinemas a segunda parte, “Transformers: A Vingança dos Derrotados”. Pois bem. Desta vez os Autobots se tornaram aliados dos humanos com a formação da equipe Nest, na luta contra os Decepticons. Sam Witwicky (Shia LaBeouf) está a caminho da faculdade. É uma fase nova para ele, pois vai ficar longe dos pais, de sua bela namorada Mikaela (Megan Fox) e experimentar a vida independente.

Durante a mudança ele encontra um pedaço do cubo Allspark que originou a batalha entre os Autobots e Decepticons. O garoto passa a ter conhecimentos sobre a origem dos Transformers que podem levar os Decepticons a liderança do universo. Já deu pra notar que os robôs vilões farão de tudo para capturar Sam, que não vai poder levar uma vida normal como sempre quis.

Ao se lançar uma sequência, há uma grande pressão de estúdio e produtores e a expectativa do público em ver algo melhor. E tudo isso subiu à cabeça de Michael Bay que perdeu a mão ao dirigir a segunda parte de “Transformers”. Orçado em US$ 200 milhões, o filme ficou grandioso pelo lado negativo. Tudo ficou muuiito exagerado. O tom de comédia da trama extrapolou, em especial na personagem de Judy Witwicky, mãe de Sam, que ficou mais histérica do que já era, principalmente ao comer certos bolinhos turbinados com maconha. Nesse campo um grande atrativo do primeiro filme era a participação do ator Anthony Anderson, que vivia o hacker Glen Whitmann. Ele fez falta.

Na nova produção os personagens ficaram muito caricatos, o que dá a impressão de que um queria aparecer mais do que o outro. E Megan Fox foi reduzida a uma figura sexual, cheia de caras e poses, deixando-a vulgar em vez de sensual. Apesar de que, quem gosta dela não vai reclamar de sua presença incendiante.

Em relação aos robôs, agora eles são inúmeros e nas batalhas ficou difícil saber quem é Autobot e quem é Decepticon. Outro problema é que os gigantes foram muito humanizados. Eles sentem dor, choram e dizem diálogos piegas que causam riso a todo momento. Os embates entre os robôs que eram pra ser os pontos altos do filme ficaram monótonos. E aquele quê de novidade ao ver carros se transformando em robôs perdeu um pouco da graça.

Os roteiristas “viajaram” ao utilizarem elementos de produções famosas. Em certas horas, nem parece que se está assistindo “Transformers”. Um dos vilões mais parece o Predador do que um Decepticon. Há teletransporte como em “Jornada nas Estrelas”, buscas arqueológicas no estilo “Indiana Jones”, ventos de "Twister", robôs-humanos como de "O Exterminador do Futuro" e também, momentos Michael Bay de auto-adoração. Já no primeiro filme ele fez isso rapidamente quando um garoto compara a chegada dos robôs à Terra como um Armageddon. Mas agora ficou bem mais explícito. No dormitório de Sam há um pôster do filme “Bad Boys II”, dirigido por ele. Em uma sequência inútil, um porta-aviões é destruído, no qual se percebe claramente os enquadramentos e recursos de câmera lenta utilizados por ele em outra de sua produção: “Pearl Harbor”. Egocentrismo puro.

Aquela historinha super legal do primeiro filme sobre um garoto que se sente o maioral ao conseguir seu primeiro carro, a garota mais popular da escola e juntos viverem uma aventura com robôs, foi esquecida para dar lugar a um filme longo; com muito barulho; irritantes travellings circulares; explosões desnecessárias; diálogos bobos; embates insossos, ostentação. Enfim. É uma bagunça sem fim.

Não há dúvida de que a produção será um grande sucesso nas bilheterias, mas como obra cinematográfica... Assim como na franquia de “Piratas do Caribe”, para a terceira parte de “Transformers” se espera que a equipe volte às origens, com uma trama bem amarrada e sem devaneios. O único recado a ser dado a Michael Bay é: "Menos, bem menos".

segunda-feira, 22 de junho de 2009

COLETIVA DE "TRANSFORMERS: A VINGANÇA DOS DERROTADOS"

Saiba o que rolou na entrevista via satélite com a equipe de "Transformers: A Vingança dos Derrotados"

O diretor do filme Michael Bay e parte do elenco de "Transformers: A Vingança dos Derrotados" participaram de uma maratona para promover o filme. Foram 12 dias percorrendo tapetes vermelhos e coletivas de imprensa no Japão, França, Alemanha, Rússia e Inglaterra. Os planos eram de que a equipe também desembarcasse em solo brasileiro, mas em função do conflito de agendas do pessoal, os brasileiros não puderam conferir de perto a simpatia e o charme de Megan Fox e Shia LaBeouf.

Para compensar foi realizado no dia 20 de junho uma coletiva de imprensa via satélite com Bay, LaBeouf, Fox e o novato Ramon Rodriguez, que interpreta Leo, colega de quarto de Sam (LaBeouf). Apesar do cansaço, eles esbanjaram bom humor e disposição para responderem as perguntas dos jornalistas em plena manhã de um sábado (11h - horário local de Los Angeles).

Em 40 minutos de conversa, eles falaram sobre o filme, carreira e planos para o futuro. O diretor adiantou que para o terceiro filme da série o plano não é ser maior, mas fazer algo paralelo aos outros dois filmes. É o mínimo que se espera. E brincou dizendo que definitivamente o personagem de Shia vai ser morto. “Nada disso, brincadeirinha!”.

Sobre o trabalho físico necessário para as cenas de ação, Bay afirmou que usa poucos dublês. “Gosto de trabalhar com atores que têm habilidades físicas. Eu tento colocá-los o mais próximo do perigo, dentro do limite de segurança. Eles fizeram grande parte das cenas. Os atores não gostam de merecer crédito por isso, mas eles são ótimos”. LaBeouf logo o interrompeu ao dizer que aceita sim os créditos e em tom sarcástico contou que ele foi dublê de todo mundo no filme.

Em relação a crise econômica que abalou a montadora americana General Motors, o diretor declarou que a situação da GM não vai impedir a realização da terceira parte de "Transformers". “A montadora teve a gentileza de nos dar projetos fechados. E também há outras montadoras interessadas no projeto”.

Steven Spilberg é o produtor executivo da franquia "Transformers" e tutor de LaBeouf, que o tem colocado em todas as produções que realiza ("Paranoia", "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" e "Controle Absoluto"). Sobre o trabalho de Spilberg, Michael Bay afirmou que ele não vai ao set de filmagem. Fica apenas com o trabalho de consultoria. “Ele é um grande apoio. Eu pedia a opinião dele sobre certas questões como roteiro e edição”.

Para Megan Fox houve muitas perguntas sobre a sua óbvia beleza e os títulos que recebe de mulher mais sexy do mundo. “Se eu sou uma mulher sexy, eu devo ser grata por isso”, afirmou ela com modéstia. Bay acrescentou em tom brincalhão que a câmera adora Fox. “Ela é tão sexy!”, completou o diretor. A comparação entre a atriz e Angelina Jolie também foi lembrada pelos jornalistas. “Eu acho isso um absurdo. Ninguém pode ser substituta dela. Eu certamente não serei. Preciso trabalhar muito, crescer como atriz. Ninguém pode ser comparada com ela. Angelina é um ícone”.

Sobre o futuro profissional, Fox declarou que não foi convidada para fazer "Lara Croft". No entanto, falou de projetos confirmados. “ 'O Fantasma' já está sendo escrito. É o meu quadrinho predileto e estou muito entusiasmada. E estar em 'Jonah Hex' (faroeste também inspirado em história em quadrinhos) é uma oportunidade maravilhosa. Não mereço tudo isso. Acho que isso não deveria estar acontecendo comigo e me sinto muito agradecida”, exclama Fox.

Confira abaixo no perfil do ator Shia LaBeouf, o que conversei com ele.

VIVENDO O SONHO

O jovem astro Shia LaBeouf brilha com uma carreira de sucesso em Hollywood. Ele está de volta as telas com o filme "Transformers: A Vingança dos Derrotados"

Muitos atores jovens vêm se revelando em Hollywood, como Zac Efron, Emile Hirsch, Robert Pattinson. Mas nenhum anda fazendo tanto barulho e trabalhado tanto como Shia LaBeouf. Este ator de apenas 23 anos tem chamado atenção dos produtores e também de um certo Steven Spilberg. O cineasta viu o ator no extinto seriado “Mano a Mana” (1999-2003) e desde então o imaginou encarnando um personagem na quarta parte da série "Indiana Jones".

Mas antes disso muita coisa aconteceu. LaBeouf cresceu em um lar pobre e com pais separados. Eles sobreviviam se vestindo de palhaços e vendendo cachorro-quente em um parque. “Não venho de uma família que cresceu na indústria. Eu era um isolado, então ser aceito, não só pra mim, mas para gente como eu, é incrível”, afirmou o ator.

A vontade de ser ator surgiu não por vocação ou paixão pela arte e sim pelo salário. A atuação parecia uma maneira fácil de ganhar dinheiro. Principalmente ao ver um amigo trabalhar no seriado “Dr. Quinn, Medicine Woman” e ter todos os brinquedos que LaBeouf queria. Ele então procurou um agente na lista telefônica e logo depois passou a fazer testes até conseguir o papel do garoto Lois Stevens no seriado da Disney “Mano a Mana”, que até lhe rendeu um prêmio Emmy. LaBeouf fez várias participações na televisão em seriados como “ER” e “Arquivo X”.

A estreia do ator no cinema foi no filme infantil “Meu Amigo Einstein”, mas logo ele passou a atuar em papéis coadjuvantes em grandes produções, como “As Panteras Detornando”, “Eu, Robô” e “Constantine”. Outras produções de sua filmografia são “O Nerd Vai à Guerra”, “O Maior Jogo da História”, “Santos e Demônios” e “Bobby”.

Em 2006 a sorte sorriu para o jovem ator ao começar uma ótima parceria com ninguém menos que Steven Spilberg. Ele considera LaBeouf como o Tom Hanks da nova geração. Um título de peso para o astro. O diretor escalou LaBeouf para trabalhar em algumas produções dele. A primeira foi a versão moderna de “Janela Indiscreta”, intitulada “Paranoia”, no qual ele interpreta um menino que após bater no professor de espanhol, é condenado a passar 90 dias em prisão domiciliar. Em sua tediosa rotina preso em casa, ele começa a espiar a vizinhança, até que passa a desconfiar de que um dos vizinhos é um assassino.

Logo depois o ator fez o mega-hit “Transfomers”, adaptação da linha de brinquedos da Hasbro, que traz a batalha entre duas raças alienígenas robóticas, os Autobots e os Decepticons. Em “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” LaBeouf teve a chance de ser dirigido pelo próprio Spilberg.

Em outubro passado foi lançado o suspense “Controle Absoluto”, no qual retoma além da parceria com o produtor executivo Steven Spilberg, também com o diretor DJ Caruso, que o dirigiu em "Paranoia". Caruso define bem o trabalho de LaBeouf: “Ele é bonito o bastante para as garotas o amarem e também não tão bonito a ponto de ser odiado pelos homens. Todos podem se identificar com ele. Sua interpretação e sua habilidade de tornar verdadeira uma situação o faz se destacar entre os jovens atores”, afirmou o diretor em um programa de TV. E isso é confirmado na tela. O ator consegue imprimir verdade em sua atuação, vivendo desde um adolescente entediado em casa até um grande herói de filmes de ação.

Agora o ator retorna com "Transformers: A Vingança dos Derrotados", segunda parte da franquia de sucesso. No útlimo dia 20, eu participei da coletiva de imprensa via satélite com o diretor Michael Bay e os atores do filme: LaBeouf, Megan Fox e Ramon Rodriguez.

Perguntei a LaBeouf sobre como ele trata o fato de ser um astro do cinema tão jovem. Muito simpático, ele disse que é um cara de sorte. E que esse sucesso se deve a encontrar as pessoas certas na hora certa. Outra questão que levantei foi como o ator lida com a pressão em estrelar blockbusters que precisam ser sair muito bem nas bilheterias. "Para ser honesto com você, acho que esses grandes filmes fariam sucesso com ou sem a minha presença. A pressão em trabalhar em filmes grandiosos eu deixo para os diretores. Eles que lidam com essa pressão. Eu não me sinto pressionado. Quando se está rodeado por robôs gigantes e por Megan Fox, ninguém olha para mim. Assim é bem mais fácil", contou ele aos risos. Para terminar, LaBeouf me adiantou que vai haver o "Indiana Jones 5". "Estamos na fase de desenvolvimento, trabalhando no roteiro", concluiu ele.

LaBeouf procura manter uma vida pessoal discreta, mas seus problemas com a lei não deixam isso acontecer. Em novembro de 2007 ele foi preso por estar bêbado e se recusar a sair de uma farmácia. Em março do ano passado ele teve uma acusação por fumar em local proibido em Los Angeles. E em julho ele sofreu um acidente de carro, no qual feriu severamente a mão esquerda. Isso acarretou em atrasos nas filmagens da segunda parte de “Transfomers”.

São arranhões na imagem do jovem galã, mas que não devem surtir em prejuízos em sua carreira. “Não entrei nesse ramo para servir de modelo, mas para me divertir e fazer o que amo. Estou aprendendo com o tempo e fazendo filmes durante o processo”, declarou ele.

Hollywood nomeou LaBeouf como o maior jovem astro da atualidade. Na edição de setembro de 2008 da revista “Details” ele disse: “Eu não posso ser o cara dos blockbusters para sempre”. Mas com Spilberg como tutor e grandes filmes, o que se prevê para o ator são muitos arrasa-quateirões e um futuro nada mais do que brilhante.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

FESTA PARA CELEBRAR "JEAN CHARLES"

O ator Selton Mello e equipe do filme "Jean Charles" prestigiaram a pre-estreia da produção, que estreia no dia 26 de junho nos cinemas

Agitação e muitos famosos marcaram presença na pré-estreia do filme "Jean Charles", ontem em São Paulo, no Cinemark Iguatemi. O elenco e equipe da produção, que estreia no Brasil no dia 26 de junho, claro, também estavam por lá.

O diretor Henrique Goldman, o produtor Carlos Nader, o roteirista Marcelo Starobinas, os atores Selton Mello, Vanessa Giácomo, Luis Miranda e até o cantor Sidney Magal, que faz uma participação no longa, posaram para fotos e conversaram com a imprensa.

TERRA ESTRANGEIRA

Selton Mello interpreta Jean Charles, brasileiro que foi morto ao ser confundido com um terrorista em Londres

O filme "Jean Charles" conta a história do eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes, que ficou mundialmente conhecido pelo triste episódio de ter sido confundido com um terrorista e ser morto por policiais em um vagão de metrô, numa estação de Londres em 2005.

O diretor e co-roteirista Henrique Goldman não quis filmar uma história sobre o incidente e as implicações da polícia londrina no caso. Mas sim em focar na vida de um brasileiro que vai ganhar a vida em Londres e também na grande comunidade de brasileiros que moram no país. A luta diária dessas pessoas em busca do sonho de terem uma vida melhor.

Mas não pensem que o filme desbanca para um dramalhão. Tudo é contado sob uma perspectiva bem humorada explorando o famoso jeitinho brasileiro. “Não quis contar a história de coitados, que trabalham duro e que são explorados. Mas celebrar jovens esforçados que sonham, que são aventureiros e que não lamentam a ideia de que vão para lá trabalhar em coisas que os ingleses se negam a fazer”, declarou Goldman em coletiva de imprensa realizada no dia 16 de junho.

Para Selton Mello, que interpreta o personagem título, o filme é a história sobre um cara como qualquer outro. “O filme é sobre um cara, sobre muitos brasileiros que estão lá em Londres, que trabalham, que sonham. Alguém como a gente, que erra, acerta, sonha, chora e sente saudade”, afirmou o ator. Há uma familiaridade nas histórias do intérprete e personagem. Mello nasceu em Passos (MG) e Menezes nasceu em Gonzaga (MG) e isso significou um retorno às raízes para o ator. Ambos saíram do interior de Minas e a forma como o eletricista se assombrou com Londres, o ator se sentiu do mesmo jeito. “Tem algum caipirismo comum entre intérprete e personagem”.

Na história, a ficção foi feita para sintetizar a realidade. O elenco foi formado por uma mistura de atores e pessoas que conheceram Jean para imprimir a sensação de veracidade. Os não atores foram recrutados dentro da comunidade brasileira de Londres. Patrícia Armani, prima de Jean Charles interpreta a si mesma. E ela tira de letra ao aparecer em cena com Mello e Vanessa Giácomo. O ótimo ator Luis Miranda ("Meu Nome Não É Johnny") vive o primo de Jean, Alex. Um típico estereótipo do homem pobre e batalhador com um jeito malandro. Ele fica responsável pelas tiradas mais engraçadas do filme.

O co-roteirista Marcelo Starobinas teve uma preocupação em criar diálogos informais para se chegar o mais próximo do cotidiano desses brasileiros. Ele explicou que o os diálogos não eram decorados pelos atores. Apenas se passava o sentido das cenas para os atores interpretarem no calor do momento. Isso é percebido ao se assistir ao filme. Os diálogos parecem uma conversa que se tem com alguém na rua.

E essa improvisação levou a uma frase que o eletricista fala na produção que já se tornou clássica: “Brasileiro é que nem Gremlin. É só jogar água, que aparece um monte”. Essa sentença surgiu da cabeça de Mello, pois foi o que ele sentiu ao chegar em Londres. “Eu ia a um restaurante, aparecia um garçom e dizia: ‘Você é o Selton Mello né? Posso tirar uma foto com você? Eu sou lá de Goiânia’. Então a gente tirava uma foto. Daqui a pouco no mesmo restaurante o rapaz trazia a cozinheira que vinha da Bahia. Então começava a aparecer brasileiro de tudo quanto é lugar!”, contou o ator.

No entanto, tanta improvisação teve de ser dosada, em especial na sequência da morte de Jean Charles. Mello expressou uma reação e o trecho foi cortado. "Mostrando no filme que ele reagia, poderíamos dar força e argumento para os policiais, que é algo que não tem nos laudos processuais da investigação", explicou Starobinas. A produção levou seis semanas para ser filmada. Cinco em Londres e uma na cidade do interior de São Paulo, Paulínia. O município serviu de locação para ambientar Gonzaga.

"Jean Charles" é a primeira co-produção cinematográfica entre Brasil e Inglaterra. Do lado de cá está a produtora Já Filmes, de Carlos Nader. E do lado de lá do Atlântico, a Mango Films do diretor Henrique Goldman. Na ficha de produtores executivos há um grande nome do cinema, Stephen Frears, conhecido por dirigir filmes como "Ligações Perigosas" e o recente "A Rainha".

ENTREVISTA COM HENRIQUE GOLDMAN

Aproveitando a ocasião de lançamento do filme "Jean Charles", NO MUNDO DO CINEMA conversou com o diretor Henrique Goldman sobre esta nova produção.

Você gosta de trabalhar com a temática do “outsider” em seus filmes. Como você utilizou isso para fazer “Jean Charles”?
O Jean Charles era um outsider. E o mundo do filme é um mundo de outsiders. Da comunidade brasileira inserida naquele contexto.

Como foi o processo de pesquisa até chegar a história do roteiro?
Há milhares de brasileiros em Londres. Entre eles estão amigos, parentes, inimigos de Jean Charles. E foi uma imersão total naquele mundo para poder contar a história que é vista na tela.

Como você fez a história de um homem comum ser interessante para o público?
Acho que a história de qualquer homem é interessante. Basta você observá-la de modo interessante. Mas o Jean Charles virou um ícone. Em torno do nome desse brasileiro normal, um cara que não tinha a menor vontade de ser famoso, gravita em volta dele, temas mais importantes da atualidade como a imigração, a guerra ao terror, o fundamentalismo religioso. Toda a situação dele se prestava muito bem para uma história.

Falando nisso, como você fez para equilibrar a realidade com a ficção e ainda entreter o espectador?
Nós só usamos o recurso da ficção para contar melhor a realidade. É igual aquele poema do Fernando Pessoa ("Autopsicografia"). O poeta finge a dor que é verdadeira pra poder contá-la bem. Nós só ficcionalizamos a história para poder contar melhor o que aconteceu de verdade.

Como você chegou ao nome do Selton Mello para interpretar Jean Charles?
Essa escolha foi quase banal e óbvia. O Selton Mello é um grandíssimo ator. Um dos maiores talentos, talvez do mundo. Ele tem um charme irresistível de poder nos ajudar a retratar um personagem que não fosse só um santo, mas que tivesse defeitos também. O Selton é tão irresistível que você pode pedir para ele fazer as piores coisas que ele acaba aceitando. Em Meu Nome Não é Johnny o cara era traficante de cocaína e no final você acabava torcendo por ele. O cara era o maior pilantra... Essa qualidade era muito importante para o filme.

No filme foram utilizados não atores. Como foi o trabalho de direção com essas pessoas?
Esse tipo de trabalho é como você viajar num barco à vela. Você sabe navegar, conhece o vento, mas você precisa contar com as velas e com os elementos da natureza para te conduzir. Você não pode forçar certas situações. É preciso criar uma situação que conduza essas poucas pessoas que não eram atores a encontrarem um jeito de participarem da história.


Esses atores não profissionais ficaram inibidos de estarem perto de profissionais como o Selton Mello ou o Luis Miranda?
O Selton ajudou muito e eles ajudaram muito o Selton. A Patrícia Armani, prima do Jean Charles nunca tinha atuado. Ela faz o papel de si mesma. Mas ela conhecia muito bem o Jean, os lugares. Ela sempre nos orientou, foi uma relação muito legal.

Você e o roteirista Marcelo Starobinas trabalharam muito com a improvisação. Por que vocês adotaram esse processo?
Exatamente por entender que essa “viagem” tinha de ser de barco à vela. Quando se tem atores tão maravilhosos como tivemos, é tão legal deixar eles também virarem escritores do filme, num certo sentido. Mas você tem que fazer eles vivenciarem a vida dos personagens, mais do que interpretá-los.

Você considera o filme, um libelo contra a polícia?
Não. Apesar de que seria ótimo se as pessoas responsáveis fossem responsabilizadas e punidas pela desonestidade. Eles não só mataram o homem errado, o que foi uma incompetência, mas também mentiram alegando falsidades para justificar o próprio erro. Inclusive culpando o Jean Charles da própria morte. E isso é imperdoável.

Qual a mensagem que você quer passar com esse filme?
Eu quero celebrar a vida de Jean Charles e a vida dos brasileiros no exterior. Mas por outro lado quanto mais a gente fizer o público se apaixonar pelo Jean Charles e pelos primos dele, maior vai ser a indignação pelo o que aconteceu com ele. Espero que o filme também tenha esse efeito de mobilizar a opinião pública inglesa de ir atrás dos responsáveis. Responsáveis não só pela morte do Jean Charles como também por sujarem o nome de uma instituição importante que é a Scotland Yard. Uma Polícia que não carrega armas, a não ser em casos extremos, muito civilizada. Eu não tenho nada contra o Polícia, mas contra os policiais e a mentalidade de deixar essas pessoas impunes. Se vê que a impunidade não é um apanágio só da vida brasileira.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A PARTIDA


O filme "A Partida", que levou este ano o Oscar de melhor filme estrangeiro entra em cartaz. A produção fez uma boa carreira no Japão, se tornando a maior bilheteria do país, superando "Titanic". Pelo mundo o filme ganhou diversos prêmios em festivais. Na cerimônia do Oscar, ele desbancou o favorito da categoria, a animação israelense "Valsa com Bashir". "A Partida" é dirigido por Yojiro Takita, responsável por grandes sucessos no Japão, como a fantasia "Onmyoji 1" e "2" e a super produção "Quando a Última Espada é Sacada" sobre o universo dos samurais.

Em "A Partida", Daigo Kobayash é um dedicado violoncelista, que perde o emprego após a orquestra em que trabalha ser desfeita. Ele, agora um desafortunado, precisa arranjar um novo emprego para sustentar a ele e a esposa e pagar o caro violoncelo que adquiriu por 18 milhões de ienes. Daigo decide mudar de Tóquio para sua cidade natal. O homem vê no jornal um convidativo anúncio de emprego, que paga bem, não necessita de experiência anterior e é para ajudar a partir... Ele vai a entrevista crente de que vai trabalhar com turismo, já que ele vai promover a partida de pessoas para diversos destinos. Mas ao chegar lá, ele descobre que essa função é de ajudar os que partiram, ou seja, cuidar daqueles que partiram dessa para uma melhor. Daigo assustado aceita relutante o emprego de preparador de cadáveres. Está aí a descoberta de um novo mundo.

O Japão é riquíssimo em tradições e em "A Partida" se explora belamente a cerimônia de acondicionamento. O acondicionamento é conhecido como um ritual para uma partida pacífica feita na presença de entes queridos do falecido, no qual o corpo é lavado, tem a roupa trocada, é maquiado e acomodado no caixão antes da cremação. O banho representa o nascimento em que a fadiga, a dor e o desejo são retirados. Daigo explica bem a cerimônia ao dizer que fazer um corpo frio reviver é dar uma beleza eterna ao ser.

Este novo emprego faz Daigo ver e refletir as variadas formas como as pessoas encaram o significado de vida e morte. E consequentemente também faz o expectador examinar essas questões tão pessoais. O diretor imprime um bom ritmo, dosando na medida certa, os momentos engraçados e tristes desta nova carreira e modo de pensar de Daigo. "A Partida" é um filme que merece ser descoberto nos cinemas.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

EXTERMINANDO A CONCORRÊNCIA

Christian Bale mostra que tem cacife para substituir Arnold Schwarzenegger no novo “O Exterminador do Futuro: A Salvação”

Arnold quem? Pois é, os filmes da série “O Exterminador do Futuro”, que deram fama a Arnold Schwarzenegger agora não pertencem mais a ele, mas sim ao grande herói de ação do momento, Christian Bale, responsável por dar magnitude ao Batman. Em “O Exterminador do Futuro: A Salvação”, o ano é 2018 e Bale interpreta John Connor, o profetizado líder da resistência em um mundo pós-apocalíptico e praticamente dominado pelas máquinas da empresa Skynet. É, desta vez são os humanos que estão em desvantagem, tendo de viver escondidos e lutando para não se tornarem iscas da fábrica de exterminadores. No caminho de Connor aparece o misterioso Marcus Wright, um homem que tem como última lembrança, a sua caminhada para a morte na prisão. Sam Worthington que dá vida a Wright, é competente em cena e mostra que terá longa vida em Hollywood.

O diretor McG, responsável pela péssima adaptação de “As Panteras” se redime aqui ao fazer um filme de ação redondo, com ótimos embates entre homens e máquinas, uma fotografia acinzentada, belos movimentos de câmera e uma incrível edição de som. Os novos exterminadores estão mais assustadores e indestrutíveis. Ganharam novas formas como as motos exterminadores e novos tamanhos equiparados ao tamanho dos robôs Autobots e Decepticons de “Transformers”. Vale a pena observar as referências que o filme faz as outras produções da série, que aqui não serão ditas para não estragar a surpresa. Christian Bale impõe respeito e segurança na pele de John Connor e com a certeza de que ele voltará.

CLÁSSICO RENOVADO

Sala tradicional do centro da capital paulista ganha cara nova sem perder o antigo charme

Avenida Ipiranga, 757, centro de São Paulo. Em um endereço tradicional da cidade foi reaberto no dia 30 de maio o Cine Marabá. O Grupo PlayArte foi o responsável pela revitalização do local, num projeto de reforma e restauro e que agora passa a se chamar Multiplex PlayArte Marabá. À frente do projeto ficaram os arquitetos Ruy Ohtake e Samuel Kruchin, que assumiram respectivamente a reforma e a restauração.

Mas esse era um projeto antigo, que segundo Otelo Bettin Coltro, vice-presidente da PlayArte, desde 1998 já se cogitava a ideia de transformar o Marabá em Multiplex. “O ponto da Ipiranga com a São João é bastante nobre, importante e que mereceria ser um atrativo diferenciado nos formatos mais modernos que a tecnologia permite hoje”, afirmou Coltro em uma coletiva de imprensa sobre a inauguração do Multiplex Marabá.

O antigo Cine Marabá foi inaugurado em 1944 na área que era conhecida como Cinelândia Paulistana. Lá se concentravam mais de trinta cinemas. Para a grande estreia do Marabá foi exibida a produção "Desde que Partiste", um drama estrelado por Claudette Colbert. As produções da companhia Vera Cruz também eram exibidas. A sala do cinema tinha quase 1700 lugares e ficava sempre lotada.

Ir ao cinema era um grande evento na agenda das pessoas daquela época. O prédio em que se encontra o cinema e o hotel (de mesmo nome) foi tombado na década de 1990 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e fechado em 2007. A partir de então, começaram os planos para reforma e restauro. Foram consumidos 11 meses de trabalho e um investimento de R$ 8 milhões, entre obras, restauração e equipamentos para montar o ambiente.

O Projeto
A fachada imponente chama atenção para o nome do cinema na marquise, respeitando o original. Ao adentrar no complexo, percebe-se o contraste do antigo com o contemporâneo. “A surpresa mais interessante é aquela que nós oferecemos ao público. Ele entra no Marabá, no saguão enorme e o susto é quando ele passa o saguão e entra no espaço contemporâneo”, contou Ohtake.

No grande saguão de entrada há uma bomboniere moderna, belos lustres de outrora, portas em couro e paredes revestidas por mármore. O piso da sala de projeção original foi remontado na entrada. Nos corredores que dão acesso às salas de projeção, o público é conduzido por um belo e macio tapete vermelho resgatando o glamour dos anos 40. Nas paredes, telas de plasma mostram o pôster e o trailer de cada filme em cartaz.

A única sala que existia foi dividida em cinco. A sala 1, com cerca de 430 lugares, tem duas pinturas em cada lateral e duas ânforas (vasos de barro) próximos às caixas de som. Além disso, o forro é original, só foi mudada a cor rosa para o preto, já que a cor anterior prejudicava a exibição dos filmes em tecnologia digital. Esta sala gigante oferece filmes mais comerciais e os com tecnologia 3D. “Manter uma sala grande como essa é manter exatamente aquela imagem que existia. Transpô-la para os dias de hoje”, explicou Coltro.

As salas 2 e 3 são menores e serão opções para exibir filmes de arte, produções cujo público é mais exigente, proporcionando um ambiente intimista. Uma escada, também forrada com tapete vermelho, leva as pessoas ao piso superior. Nele, há um grande mezanino preservado como o original. O local é propício aos encontros e bate-papos antes das sessões nas salas 4 e 5 começarem e também para se comprar as guloseimas na bomboniere.

Espelhos e lustres de cristais originais também foram mantidos. Para o arquiteto Samuel Kruchin, mais do que uma restauração, o projeto é o restabelecimento do conceito do cinema no centro da cidade. “Não é apenas o restauro de um edifício. Restaura a própria ideia do cinema associado à vida, ao coração da cidade”, declara ele.

Público diversificado
Essa inauguração chega em boa hora, já que é a época do lançamento das grandes produções hollywoodianas. Segundo Coltro, o público do primeiro trimestre de 2009 cresceu 14 % em relação ao ano passado. “É crescimento sobre crescimento. Isso mostra que existe uma boa quantidade de público que prefere ir a um cinema que não seja num shopping”. A ideia de revitalizar o Marabá tem a meta de atrair pessoas de todas as idades e classes. É um programa interessante: uma visita ao centro da cidade e a chance de ver bons filmes em salas confortáveis.

“O objetivo é trazer os mais diferentes tipos de público. É o cinema de ponta com acesso popular”, disse o vice-presidente da PlayArte. E os preços são atraentes. O valor para o final de semana é R$ 14 e para as quartas-feiras o preço é R$ 10. As projeções em 3D terão ingresso a R$ 16, que é um valor razoável comparado aos R$ 25 da sala Multiplex Bristol, também da PlayArte.

No Marabá o caráter do contemporâneo dentro de um bem tombado é um convite fascinante ao cinema.“A coragem e a audácia da PlayArte se mostra desde o começo: inaugurar um cinema no centro da cidade. Essa ousadia faz com que o centro volte a respirar o cinema que estava faltando”, concluiu Kruchin.