Aproveitando a ocasião de lançamento do filme "Jean Charles", NO MUNDO DO CINEMA conversou com o diretor Henrique Goldman sobre esta nova produção.
Você gosta de trabalhar com a temática do “outsider” em seus filmes. Como você utilizou isso para fazer “Jean Charles”?
O Jean Charles era um outsider. E o mundo do filme é um mundo de outsiders. Da comunidade brasileira inserida naquele contexto.
Como foi o processo de pesquisa até chegar a história do roteiro?
Há milhares de brasileiros em Londres. Entre eles estão amigos, parentes, inimigos de Jean Charles. E foi uma imersão total naquele mundo para poder contar a história que é vista na tela.
Como você fez a história de um homem comum ser interessante para o público?
Acho que a história de qualquer homem é interessante. Basta você observá-la de modo interessante. Mas o Jean Charles virou um ícone. Em torno do nome desse brasileiro normal, um cara que não tinha a menor vontade de ser famoso, gravita em volta dele, temas mais importantes da atualidade como a imigração, a guerra ao terror, o fundamentalismo religioso. Toda a situação dele se prestava muito bem para uma história.
Falando nisso, como você fez para equilibrar a realidade com a ficção e ainda entreter o espectador?
Nós só usamos o recurso da ficção para contar melhor a realidade. É igual aquele poema do Fernando Pessoa ("Autopsicografia"). O poeta finge a dor que é verdadeira pra poder contá-la bem. Nós só ficcionalizamos a história para poder contar melhor o que aconteceu de verdade.
Como você chegou ao nome do Selton Mello para interpretar Jean Charles?
Essa escolha foi quase banal e óbvia. O Selton Mello é um grandíssimo ator. Um dos maiores talentos, talvez do mundo. Ele tem um charme irresistível de poder nos ajudar a retratar um personagem que não fosse só um santo, mas que tivesse defeitos também. O Selton é tão irresistível que você pode pedir para ele fazer as piores coisas que ele acaba aceitando. Em Meu Nome Não é Johnny o cara era traficante de cocaína e no final você acabava torcendo por ele. O cara era o maior pilantra... Essa qualidade era muito importante para o filme.
No filme foram utilizados não atores. Como foi o trabalho de direção com essas pessoas?
Esse tipo de trabalho é como você viajar num barco à vela. Você sabe navegar, conhece o vento, mas você precisa contar com as velas e com os elementos da natureza para te conduzir. Você não pode forçar certas situações. É preciso criar uma situação que conduza essas poucas pessoas que não eram atores a encontrarem um jeito de participarem da história.
Esses atores não profissionais ficaram inibidos de estarem perto de profissionais como o Selton Mello ou o Luis Miranda?
O Selton ajudou muito e eles ajudaram muito o Selton. A Patrícia Armani, prima do Jean Charles nunca tinha atuado. Ela faz o papel de si mesma. Mas ela conhecia muito bem o Jean, os lugares. Ela sempre nos orientou, foi uma relação muito legal.
Você e o roteirista Marcelo Starobinas trabalharam muito com a improvisação. Por que vocês adotaram esse processo?
Exatamente por entender que essa “viagem” tinha de ser de barco à vela. Quando se tem atores tão maravilhosos como tivemos, é tão legal deixar eles também virarem escritores do filme, num certo sentido. Mas você tem que fazer eles vivenciarem a vida dos personagens, mais do que interpretá-los.
Você considera o filme, um libelo contra a polícia?
Não. Apesar de que seria ótimo se as pessoas responsáveis fossem responsabilizadas e punidas pela desonestidade. Eles não só mataram o homem errado, o que foi uma incompetência, mas também mentiram alegando falsidades para justificar o próprio erro. Inclusive culpando o Jean Charles da própria morte. E isso é imperdoável.
Qual a mensagem que você quer passar com esse filme?
Eu quero celebrar a vida de Jean Charles e a vida dos brasileiros no exterior. Mas por outro lado quanto mais a gente fizer o público se apaixonar pelo Jean Charles e pelos primos dele, maior vai ser a indignação pelo o que aconteceu com ele. Espero que o filme também tenha esse efeito de mobilizar a opinião pública inglesa de ir atrás dos responsáveis. Responsáveis não só pela morte do Jean Charles como também por sujarem o nome de uma instituição importante que é a Scotland Yard. Uma Polícia que não carrega armas, a não ser em casos extremos, muito civilizada. Eu não tenho nada contra o Polícia, mas contra os policiais e a mentalidade de deixar essas pessoas impunes. Se vê que a impunidade não é um apanágio só da vida brasileira.
Você gosta de trabalhar com a temática do “outsider” em seus filmes. Como você utilizou isso para fazer “Jean Charles”?
O Jean Charles era um outsider. E o mundo do filme é um mundo de outsiders. Da comunidade brasileira inserida naquele contexto.
Como foi o processo de pesquisa até chegar a história do roteiro?
Há milhares de brasileiros em Londres. Entre eles estão amigos, parentes, inimigos de Jean Charles. E foi uma imersão total naquele mundo para poder contar a história que é vista na tela.
Como você fez a história de um homem comum ser interessante para o público?
Acho que a história de qualquer homem é interessante. Basta você observá-la de modo interessante. Mas o Jean Charles virou um ícone. Em torno do nome desse brasileiro normal, um cara que não tinha a menor vontade de ser famoso, gravita em volta dele, temas mais importantes da atualidade como a imigração, a guerra ao terror, o fundamentalismo religioso. Toda a situação dele se prestava muito bem para uma história.
Falando nisso, como você fez para equilibrar a realidade com a ficção e ainda entreter o espectador?
Nós só usamos o recurso da ficção para contar melhor a realidade. É igual aquele poema do Fernando Pessoa ("Autopsicografia"). O poeta finge a dor que é verdadeira pra poder contá-la bem. Nós só ficcionalizamos a história para poder contar melhor o que aconteceu de verdade.
Como você chegou ao nome do Selton Mello para interpretar Jean Charles?
Essa escolha foi quase banal e óbvia. O Selton Mello é um grandíssimo ator. Um dos maiores talentos, talvez do mundo. Ele tem um charme irresistível de poder nos ajudar a retratar um personagem que não fosse só um santo, mas que tivesse defeitos também. O Selton é tão irresistível que você pode pedir para ele fazer as piores coisas que ele acaba aceitando. Em Meu Nome Não é Johnny o cara era traficante de cocaína e no final você acabava torcendo por ele. O cara era o maior pilantra... Essa qualidade era muito importante para o filme.
No filme foram utilizados não atores. Como foi o trabalho de direção com essas pessoas?
Esse tipo de trabalho é como você viajar num barco à vela. Você sabe navegar, conhece o vento, mas você precisa contar com as velas e com os elementos da natureza para te conduzir. Você não pode forçar certas situações. É preciso criar uma situação que conduza essas poucas pessoas que não eram atores a encontrarem um jeito de participarem da história.
Esses atores não profissionais ficaram inibidos de estarem perto de profissionais como o Selton Mello ou o Luis Miranda?
O Selton ajudou muito e eles ajudaram muito o Selton. A Patrícia Armani, prima do Jean Charles nunca tinha atuado. Ela faz o papel de si mesma. Mas ela conhecia muito bem o Jean, os lugares. Ela sempre nos orientou, foi uma relação muito legal.
Você e o roteirista Marcelo Starobinas trabalharam muito com a improvisação. Por que vocês adotaram esse processo?
Exatamente por entender que essa “viagem” tinha de ser de barco à vela. Quando se tem atores tão maravilhosos como tivemos, é tão legal deixar eles também virarem escritores do filme, num certo sentido. Mas você tem que fazer eles vivenciarem a vida dos personagens, mais do que interpretá-los.
Você considera o filme, um libelo contra a polícia?
Não. Apesar de que seria ótimo se as pessoas responsáveis fossem responsabilizadas e punidas pela desonestidade. Eles não só mataram o homem errado, o que foi uma incompetência, mas também mentiram alegando falsidades para justificar o próprio erro. Inclusive culpando o Jean Charles da própria morte. E isso é imperdoável.
Qual a mensagem que você quer passar com esse filme?
Eu quero celebrar a vida de Jean Charles e a vida dos brasileiros no exterior. Mas por outro lado quanto mais a gente fizer o público se apaixonar pelo Jean Charles e pelos primos dele, maior vai ser a indignação pelo o que aconteceu com ele. Espero que o filme também tenha esse efeito de mobilizar a opinião pública inglesa de ir atrás dos responsáveis. Responsáveis não só pela morte do Jean Charles como também por sujarem o nome de uma instituição importante que é a Scotland Yard. Uma Polícia que não carrega armas, a não ser em casos extremos, muito civilizada. Eu não tenho nada contra o Polícia, mas contra os policiais e a mentalidade de deixar essas pessoas impunes. Se vê que a impunidade não é um apanágio só da vida brasileira.
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