segunda-feira, 1 de junho de 2009

CLÁSSICO RENOVADO

Sala tradicional do centro da capital paulista ganha cara nova sem perder o antigo charme

Avenida Ipiranga, 757, centro de São Paulo. Em um endereço tradicional da cidade foi reaberto no dia 30 de maio o Cine Marabá. O Grupo PlayArte foi o responsável pela revitalização do local, num projeto de reforma e restauro e que agora passa a se chamar Multiplex PlayArte Marabá. À frente do projeto ficaram os arquitetos Ruy Ohtake e Samuel Kruchin, que assumiram respectivamente a reforma e a restauração.

Mas esse era um projeto antigo, que segundo Otelo Bettin Coltro, vice-presidente da PlayArte, desde 1998 já se cogitava a ideia de transformar o Marabá em Multiplex. “O ponto da Ipiranga com a São João é bastante nobre, importante e que mereceria ser um atrativo diferenciado nos formatos mais modernos que a tecnologia permite hoje”, afirmou Coltro em uma coletiva de imprensa sobre a inauguração do Multiplex Marabá.

O antigo Cine Marabá foi inaugurado em 1944 na área que era conhecida como Cinelândia Paulistana. Lá se concentravam mais de trinta cinemas. Para a grande estreia do Marabá foi exibida a produção "Desde que Partiste", um drama estrelado por Claudette Colbert. As produções da companhia Vera Cruz também eram exibidas. A sala do cinema tinha quase 1700 lugares e ficava sempre lotada.

Ir ao cinema era um grande evento na agenda das pessoas daquela época. O prédio em que se encontra o cinema e o hotel (de mesmo nome) foi tombado na década de 1990 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e fechado em 2007. A partir de então, começaram os planos para reforma e restauro. Foram consumidos 11 meses de trabalho e um investimento de R$ 8 milhões, entre obras, restauração e equipamentos para montar o ambiente.

O Projeto
A fachada imponente chama atenção para o nome do cinema na marquise, respeitando o original. Ao adentrar no complexo, percebe-se o contraste do antigo com o contemporâneo. “A surpresa mais interessante é aquela que nós oferecemos ao público. Ele entra no Marabá, no saguão enorme e o susto é quando ele passa o saguão e entra no espaço contemporâneo”, contou Ohtake.

No grande saguão de entrada há uma bomboniere moderna, belos lustres de outrora, portas em couro e paredes revestidas por mármore. O piso da sala de projeção original foi remontado na entrada. Nos corredores que dão acesso às salas de projeção, o público é conduzido por um belo e macio tapete vermelho resgatando o glamour dos anos 40. Nas paredes, telas de plasma mostram o pôster e o trailer de cada filme em cartaz.

A única sala que existia foi dividida em cinco. A sala 1, com cerca de 430 lugares, tem duas pinturas em cada lateral e duas ânforas (vasos de barro) próximos às caixas de som. Além disso, o forro é original, só foi mudada a cor rosa para o preto, já que a cor anterior prejudicava a exibição dos filmes em tecnologia digital. Esta sala gigante oferece filmes mais comerciais e os com tecnologia 3D. “Manter uma sala grande como essa é manter exatamente aquela imagem que existia. Transpô-la para os dias de hoje”, explicou Coltro.

As salas 2 e 3 são menores e serão opções para exibir filmes de arte, produções cujo público é mais exigente, proporcionando um ambiente intimista. Uma escada, também forrada com tapete vermelho, leva as pessoas ao piso superior. Nele, há um grande mezanino preservado como o original. O local é propício aos encontros e bate-papos antes das sessões nas salas 4 e 5 começarem e também para se comprar as guloseimas na bomboniere.

Espelhos e lustres de cristais originais também foram mantidos. Para o arquiteto Samuel Kruchin, mais do que uma restauração, o projeto é o restabelecimento do conceito do cinema no centro da cidade. “Não é apenas o restauro de um edifício. Restaura a própria ideia do cinema associado à vida, ao coração da cidade”, declara ele.

Público diversificado
Essa inauguração chega em boa hora, já que é a época do lançamento das grandes produções hollywoodianas. Segundo Coltro, o público do primeiro trimestre de 2009 cresceu 14 % em relação ao ano passado. “É crescimento sobre crescimento. Isso mostra que existe uma boa quantidade de público que prefere ir a um cinema que não seja num shopping”. A ideia de revitalizar o Marabá tem a meta de atrair pessoas de todas as idades e classes. É um programa interessante: uma visita ao centro da cidade e a chance de ver bons filmes em salas confortáveis.

“O objetivo é trazer os mais diferentes tipos de público. É o cinema de ponta com acesso popular”, disse o vice-presidente da PlayArte. E os preços são atraentes. O valor para o final de semana é R$ 14 e para as quartas-feiras o preço é R$ 10. As projeções em 3D terão ingresso a R$ 16, que é um valor razoável comparado aos R$ 25 da sala Multiplex Bristol, também da PlayArte.

No Marabá o caráter do contemporâneo dentro de um bem tombado é um convite fascinante ao cinema.“A coragem e a audácia da PlayArte se mostra desde o começo: inaugurar um cinema no centro da cidade. Essa ousadia faz com que o centro volte a respirar o cinema que estava faltando”, concluiu Kruchin.

Nenhum comentário:

Postar um comentário