quarta-feira, 24 de agosto de 2011

NA CADEIRA DE DIRETOR


Carlos Alberto Riccelli comanda terceiro longa da carreira, "Onde Está a Felicidade?", trabalhando com a mulher Bruna Lombardi e o filho Kim Riccelli

Carlos Alberto Riccelli, 65 anos, é conhecido pela carreira de ator, tanto na televisão quanto no cinema. E é o campo cinematográfico que ele anda explorando mais ultimamente. No dia 19 de agosto, estreia o terceiro filme dirigido e produzido por ele: "Onde Está a Felicidade?". Os outros foram "O Signo da Cidade" e "Stress, Orgasms, and Salvation".

No novo longa, ele volta a trabalhar com a mulher, Bruna Lombardi, que é a protagonista, roteirista e uma das produtoras de "Onde Está a Felicidade?". O filho deles, Kim Riccelli foi a assistente de direção.

No filme, Bruna é Teo, uma chefe de cozinha que apresenta o programa A Receita do Amor, onde ensina o preparo de comidas afrodisíacas. Tudo vai bem até que a vida de Teo muda completamente. Ela descobre a infidelidade do marido, Nando (Bruno Garcia), perde o emprego e sem rumo decide ouvir os conselhos de uma amiga: fazer o Caminho de Santiago de Compostela. Ela, o ex-chefe, Zeca (Marcello Airoldi) e a sobrinha de sua amiga, Milena (Marta Larralde), partem em busca da espiritualidade e assim virem as coisas com mais clareza.

Riccelli fala sobre o novo trabalho. Confira:

Fale um pouco sobre as filmagens. Como foi montar a infraestrutura e organizar a equipe em pontos remotos do Caminho de Santiago de Compostela?
É como fazer dois filmes. Filmamos em São Paulo, Paulínia, no Piauí e na Serra da Capivara. Depois partimos para a rodagem do filme no norte da Espanha. Foi um trabalho louco. Eu fui cinco vezes até lá na fase de pré-produção. Corri toda a Espanha para a escolha de pré-locações, pois ainda não sabíamos o que iríamos mostrar. No norte do país, passamos pela Viña Tondonia. A Bruna viu e disse que tinha de fazer uma cena na vinícola. Pesquisamos e fotografamos todo o Caminho de Santiago para escolher onde eu queria filmar. Outro processo foi entrevistar a equipe e assistir a muitos filmes espanhóis para escolher o elenco.

Como você chegou aos nomes do elenco?
Quando a Bruna escreveu o roteiro, pensou no Bruno Garcia imediatamente. Quando ele leu o roteiro disse que as pessoas pensariam nele mais para fazer o Zeca, do que o Nando. E a Bruna disse o contrário. Ele está muito bem, num papel mais sensível. O filme mostra a jornada da Teo, mas ele também está numa jornada pessoal, se buscando. O Marcello Airoldi foi um achado. Ele está sensacional!

"Onde Está a Felicidade?" é bem colorido. Você se influenciou pelo cinema espanhol ou pelos antigos filmes de Pedro Almodóvar para compor essa produção?
Isso é engraçado porque lá na Espanha, mostramos aos produtores espanhóis o que tínhamos filmado no Brasil. Eles comentaram: “Puxa! Que cores bem brasileiras”. (risos). Eu sinceramente não pensei em Almodóvar. Mas acredito que o fato do filme ter atores espanhóis possa remeter aos filmes coloridos do cineasta. Apesar de que hoje, ele não tem mais feito essa composição. Adotei esse visual pensando em fazer algo luminoso, colorido, pois é um filme leve, alegre. As cores são muito importantes nele.

Desde o seu primeiro longa como diretor, "Stress, Orgasms, and Salvation S.O.S.", você tem trabalhado com sua mulher, Bruna Lombardi. Vocês planejam seguir essa parceria no cinema?
Queremos sim. Nosso próximo filme também vai ter essa trinca, pois o Kim [Riccelli] vai ser o diretor assistente e vou trabalhar como ator, além de dirigir. Mas ainda não vou dizer que projeto é esse (risos).

Você que mora também nos Estados Unidos, como percebe a forma como o mercado americano enxerga o mercado brasileiro?
Os americanos querem mais que os cinemas estrangeiros morram. Este ano, alguns blockbusters não estão indo bem na bilheteria doméstica. No entanto, tem batido recordes no exterior. Por isso, eles botam muita força no mercado externo, querem ocupar todo o mercado, todas as salas de cinema. Se você é um exibidor, o seu negócio é vender ingresso, você quer mais filmes que façam público. Então, estamos um pouco nas mãos do cinema americano. Mesmo um filme de grande repercussão no Brasil como "Cidade de Deus" ou "Tropa de Elite", nos Estados Unidos passa apenas em algumas salas, em cinemas de nicho. Ele pode ter um impacto junto a classe cinematográfica. Mas o grande público não tem contato e também não está interessado. O nosso papel é o contrário, é tentar ganhar o público brasileiro, trazê-lo de volta ao cinema, que adora filmes brasileiros.

Com qual público você quer dialogar?
"Onde Está a Felicidade?" é um filme que as pessoas vão sair gostando dele e do cinema brasileiro. O filme se comunica, tem sensibilidade e também um humor escrachado. O brasileiro vai ficar orgulhoso.

Você acredita que esse público está procurando comédias?
Acho que sim. A vida é tão dura. As pessoas querem ir ao cinema para se divertirem. Elas pensam: “Não quero sofrer, não quero ver realismo”, porque o cinema brasileiro sempre foi forte em mostrar problemas sociais, desde a época do Cinema Novo. O cinema americano é o contrário, apela para a fantasia. Temos que contar histórias que nos interessem. Eu estava querendo contar essa história de "Onde Está a Felicidade?". Hoje, a vida das pessoas é tão caótica e elas estão sempre em busca de uma salvação: religiões, seitas, produtos de beleza. Eu acho engraçado a busca da personagem Teo. Assim que ela tem um problema, primeiro ela recorre a pílulas, depois ela pensa em fugir, viajando para a Espanha. O filme poderia ser um drama. Há um caso de infidelidade. A Teo perde o emprego e fica sem expectativas. Então ela decide fazer o Caminho de Santiago. Este é um tema interessante que pode ser tratado com muita leveza.

O cinema nacional ainda depende de patrocínios e leis de incentivo do governo. O Brasil pode vir a se tornar uma indústria cinematográfica algum dia?
Grande parte do problema é que em geral os filmes brasileiros não se pagam. O mercado é todo ocupado pelos americanos e isso se torna um ciclo vicioso. Como isso acontece há muitos anos, as indústrias nacionais não puderam crescer. Se o filme não se comunica, não vai bem em renda. Faço aqui uma auto crítica à classe: muitas pessoas fazem filmes para si mesmos, que não têm a menor vontade de se comunicar, que não acham o seu público. Eu gosto de todos os filmes brasileiros. Gosto até de filme ruim, consigo ver qualidades. Mas o grande público quer ver boa qualidade de produção e histórias que possam envolvê-lo, tocá-lo, diverti-lo. Mesmo assim, estamos em uma ótima fase.

O problema do cinema nacional também estaria na falta de mais salas de cinema?
Sem dúvida nenhuma! Também seria preciso diminuir o custo do ingresso, que não é todo mundo que pode pagar para ir ao cinema. Estamos em um país em que há casos de uma pessoa ir apenas uma vez por ano ao cinema, quando vai.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

DO SONHO A REALIDADE


De Minas Gerais para os Estados Unidos, Cesar Raphael se prepara para fazer seu primeiro longa-metragem, em Hollywood

Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e o sonho de fazer cinema. É assim que começa a história do cineasta Cesar Raphael. Nascido em Belo Horizonte e hoje com 25 anos, Raphael se prepara para realizar seu primeiro longa-metragem, "Pedaço de Papel", juntamente com seu primo e sócio Thiago Bento.

O longa é oriundo do curta homônimo, que o diretor lançou em 2009 e que ganhou diversos prêmios, incluindo o troféu de melhor curta-metragem no Los Angeles Brazilian Film Festival 2011.

"Pedaço de Papel" será uma coprodução entre Brasil e Estados Unidos e desde o início de 2011, o diretor fixou residência em Los Angeles. Ele conta com um apoio de peso, a do produtor Bobby Moresco, ganhador do Oscar por "Crash – No Limite". A filha dele, Amanda, roteiriza "Pedaço de Papel" juntamente com Raphael.

A produção do filme se inicia em novembro e as locações serão em Los Angeles e no Rio de Janeiro. A estreia está prevista para o segundo semestre de 2012. Raphael e Bento conversaram com NO MUNDO DO CINEMA para dar detalhes sobre a ambiciosa empreitada, e a decisão de seguirem carreira em Hollywood. Confira.

Raphael conte um pouco sobre sua incursão no cinema.
CESAR RAPHAEL - Tudo surgiu da minha parceria com meu primo e sócio Thiago Bento. Gostamos de dizer que trabalhamos juntos desde os 4 anos de idade. Sempre gostamos de brincar de fazer filmes, pegando a câmera da minha mãe e chamando os outros primos para serem atores. Na nossa adolescência isso deixou de ser uma brincadeira, para se tornar sonho e agora a produção de um filme. Fundamos a Lumiart, estudamos cinema, começamos a trabalhar com isso e produzi meu primeiro curta-metragem, O Jogo, em 2006 e depois escrevi, produzi e dirigi Pedaço de Papel que foi lançado no final de 2009.

O curta-metragem Pedaço de Papel vai virar longa. Como você chegou a essa decisão?
RAPHAEL - A ideia foi sempre ter o curta como um cartão de visita, uma forma de mostrar o nosso trabalho, com o objetivo de abrir as portas para algo maior. Com toda a aceitação que ele teve nos festivais, os prêmios recebidos e os contatos que conseguimos, possibilitou agora a realização do longa.

Com está sendo estruturar o roteiro do curta para transformá-lo num longa?
RAPHAEL - O filme não tem personagens principais. O personagem principal é uma nota de dinheiro. A história acompanha essa nota desde a fabricação dela, passando por diversos pontos narrativos e personagens secundários, até chegar ao seu final, mostrando que ele é apenas um pedaço de papel. O filme levanta a pergunta: “Até onde você iria por um pedaço de papel?”. O curta tem 17 minutos e agora estamos fazendo o longa-metragem inspirado nele. O filme não é uma refilmagem. Escolhemos seis personagens secundários do curta, aproveitando-os no longa e desenvolvendo uma história para cada um deles. Em todos os quesitos estamos um passo à frente. Se a pergunta do curta é: “Até onde você iria por um pedaço de papel?”, a do longa passa a ser: “Até onde você iria pelo seu sonho?”. Queremos mostrar em que momento a pessoa se torna corrompida para ir em busca de seu sonho.

Thiago, quanto a captação de recursos, como está o processo?
THIAGO BENTO - Não conseguimos captar incentivos para financiar o curta-metragem Pedaço de Papel, por isso decidimos tirar o dinheiro do próprio bolso. Com o longa, não é diferente. Nós abrimos uma joint-venture, na qual a Lumiart é a sócia majoritária, com 65% de cota de participação. Capitalizamos um valor estimado de R$ 400 mil para financiar a etapa de desenvolvimento. E depois vamos partir para a etapa de pré-produção.

O longa-metragem tem um orçamento de US$ 5 milhões. Como você está financiando o projeto?
BENTO - Considerando o mercado nacional, é um valor relativamente alto. Quando se fala em mercado internacional, esse é um orçamento baixo. Para conseguir esse valor, fizemos um empréstimo bancário. Até chegar a esse empréstimo, houve uma operação financeira extremamente complexa. Eu caracterizei o filme, como um produto brasileiro de exportação. Ele é um produto empreendido por uma empresa brasileira e um diretor e produtor brasileiros. Essa operação financeira foi muito mais viável.

Cesar, você quer um ator brasileiro para ser o protagonista. Este nome foi escolhido?
RAPHAEL - A maioria do elenco será americana. O filme será falado em inglês, porém vamos contar com um grande nome do cinema brasileiro. O personagem é um brasileiro que está vivendo nos Estados Unidos. Temos três nomes em negociações, mas ainda não podemos revelar quem são essas pessoas. Mas em breve vamos divulgar a decisão.

Com a experiência que você teve no Brasil e agora trabalhando nos Estados Unidos, o que mudou?
RAPHAEL - Mudou muita coisa. A forma de se trabalhar nos Estados Unidos é muito diferente e a lógica de mercado também. Lá existe uma indústria. No Brasil somos dependentes das leis de incentivo, o que de certa forma, deixa os produtores viciados e acomodados. É preciso haver empreendedorismo, que é o ponto básico para se criar uma indústria. Em Hollywood há essa mentalidade. O ponto positivo disso é que tudo acontece de forma mais rápida. O ponto negativo é que nem sempre os filmes são tão geniais. Muitos são filmes-fórmulas feitos exclusivamente para se ganhar dinheiro. O meu objetivo é conseguir unir o artístico e o comercial e criar um produto perfeito.

Dessa forma, você pretende estabilizar sua carreira em Hollywood?
RAPHAEL - É o meu objetivo. Foi lá que surgiram as oportunidades.

Cesar, o filme será uma coprodução entre Brasil e Estados Unidos. Você apresentou o projeto para alguma distribuidora brasileira?
BENTO - Nós não estamos trabalhando com um estúdio. Teve um grande estúdio interessado no projeto oferecendo US$ 12 milhões para viabilizarmos o projeto. Nós não aceitamos, pois a partir do momento em que se aceita esse tipo de operação, se perde o controle criativo do projeto. Diante disso, optamos correr o risco, fazer com verba privada, recorrer às instituições financeiras para manter esse controle criativo do projeto. Num segundo momento, vamos apresentar o filme às distribuidoras e inevitavelmente podemos ir para as mãos de um grande estúdio.
Qual a ligação de Bobby Moresco com vocês, na realização de "Pedaço de Papel"?
BENTO - O Bobby nos apadrinhou. Pensamos em tê-lo como o roteirista do nosso projeto. Entretanto, hoje ele dirige tudo o que escreve. Diante disso, pedimos uma indicação à ele de um roteirista. Ele indicou a filha, Amanda. Acreditamos que isso era marmelada, de que ele queria empurrar a filha dele para trabalhar no filme. Mas tivemos uma ótima surpresa, a química bateu. O Cesar vai assinar o roteiro com ela e estamos em negociação com o Bobby pra que ele faça a produção e a produção-executiva do filme juntamente comigo. Até o momento ainda não temos o nome dele na produção. Mas temos a chancela dele. No momento em que se tem um nome como o dele chancelando o projeto, as portas se abrem e aí temos muito mais know-how para viabilizar um projeto desse porte.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

DIRETO DA ROTA 66


Via Negromonte indica clássico "Bagdad Café"

A atriz Via Negromonte tem uma carreira diversificada. Além de atuar, ela é diretora, dançarina e cantora. No território da dança, Via pode ser vista na abertura do filme "Cotton Club" (1984), de Francis Ford Coppola. Na música, ela lançou no ano passado, seu terceiro CD, "Priyamantra". O álbum é cantado em sânscrito.

Via é mais conhecida como atriz. Na televisão, ela atuou nas novelas "Irmãos Coragem" e "Belíssima". No cinema ela foi vista recentemente em "Cabeça a Prêmio" e em duas produções sobre o mais famoso médium, Chico Xavier. No filme "Chico Xavier", ela fez um pequeno papel, a de cafetina Nora. Já em "As Mães de Chico Xavier", Via interpreta uma das personagens principais, Ruth, que sofre com o filho, viciado em drogas.

Adoro 'Bagdad Café'! O filme fala da psique humana de forma profunda e tem uma trilha sonora impagável. É cinema puro!.
Via Negromonte

Emoções na Rota 66

O cinema puro de "Bagdad Café" (1987) descrito por Via Negromonte traz na fotografia um dos principais destaques da produção. É ela que vai ilustrar características da psique humana. Ao longo do filme são usadas cores do arco-íris como linguagem cinematográfica, identificando o estado emocional da personagem principal, Jasmin (Marianne Sägebrecht).

Outro importante elemento é o movimento de câmera, também salientando o lado emocional da personagem. No início do filme, a câmera inclinada revela o desequilíbrio na relação entre Jasmin e o marido, que a abandona na Rota 66.
Jasmin caminha até chegar ao Bagdad Café, uma mistura de lanchonete e hotel. É lá que a mulher vai conquistar grandes amigos, como a dona do Bagdad, Brenda (CCH Pounder). O filme também tem uma trilha sonora incrível, com destaque para a canção "Calling You", que foi indicada ao Oscar.

Nas linhas da Rota 66

A Rota 66 era uma rodovia nos Estados Unidos de 3.755 km. Ela ligava a cidade de Chicago, no Illinois, passava pelos estados de Missouri, Kansas, Oklahoma, Texas, Novo México, Arizona e terminava na cidade de Santa Mônica, na Califórnia.

Criada em 1926, a Rota 66 deixou de fazer do Sistema de Rodovia dos Estados Unidos em 1985. Mas a rodovia ficou mundialmente conhecida e hoje tem o título de Histórica Rota 66.

Na cultura, a rodovia ganhou espaço na televisão com o seriado "Rout 66" (1960) e foi tema de música, na voz de Nat King Cole. No cinema, a Rota 66 apareceu se tornou lendária no road movie "Sem Destino" (1969), no qual dois amigos atravessam os EUA de moto. A Rota 66 ainda foi cenário de "Thelma & Louise" (1991), "Forrest Gump - O Contador de Histórias" (1994) e da animação "Carros" (2006).