quarta-feira, 25 de março de 2009

ELE TENTA, MAS NÃO CONSEGUE

Frank Miller mostra com “The Spirit-O Filme” que como cineasta ele é um ótimo cartunista

Após co-dirigir “Sin City-A Cidade do Pecado” ao lado do diretor Robert Rodriguez, o quadrinista Frank Miller encara o desafio de comandar sozinho um longa metragem. E a empreitada é “The Spirit-O Filme”. O resultado é nada menos do que catastrófico.

“The Spirit” conta a história de um fiel protetor da cidade Central City, o herói mascarado Spirit, que limpa as ruas de criminosos que perturbam os cidadãos em becos sombrios. Seu principal oponente é Octopus, que insiste em não morrer. Em um caso de assassinato descobre a ligação de um amor do passado, a bela Sand Saref.

O filme é uma adaptação da graphic novel escrita por Will Eisner, considerado o pai desse gênero literário. Miller também fez sucesso no universo dos quadrinhos ao criar incríveis histórias de violência em uma cidade perigosa na série “Sin City” e expor sua interpretação sobre a Batalha das Termópilas em "300". Ele também é responsável por dar a Batman uma face sombria em “O Cavaleiro das Trevas”.

Para fazer essa adaptação de “The Spirit”, o diretor optou em copiar o que Robert Rodriguez concebeu para “Sin City” e o que Zack Snyder fez em "300". Ou seja, fazer uma adaptação literal com os mesmos enquadramentos, diálogos e fotografia dos quadrinhos. Com “Sin City” e "300" o resultado foi fantástico. Então por que diabos deu errado com “The Spirit”?

Os motivos são muitos. A escalação do elenco não é a das mais felizes e os atores ficaram caricatos. O pouco conhecido Gabriel Macht ("Minha Mãe Quer Que Eu Case"), interpreta o personagem título, mas ele não tem o mínimo carisma para viver um herói valentão que não pode ver um rabo de saia. Na tela, ele é apenas um homem mascarado que entoa com voz grossa, algumas frases de efeito, que não provocam nada no espectador. O vilão Octopus é interpretado pelo exagerado Samuel L. Jackson, que mostra o canastrão que se tornou. Talvez a única que se salva do vexame é a maravilhosa Eva Mendes, revelando que nasceu para interpretar uma femme fatale bela, malvada e cheia de caras e bocas.

Frank Miller é bem presunçoso ao achar que dirigir um filme é tarefa fácil e mostra o total despreparo dele na cadeira de diretor. Para ele bastava transpor as páginas dos quadrinhos para a tela com o uso de chroma key e computação gráfica. Mas é preciso lidar com atores, estruturação de roteiro, ritmo do enredo e a noção de movimentação a personagens estáticos. Ele dá ao filme um tom de comédia pastelão, que mais parece um esquete dos “Três Patetas”. É bem bobinho.


“The Spirit” é um primo bem pobre de “Sin City”. A produção é apenas uma colagem de frames idênticos as páginas da graphic novel com o uso da fotografia p&b preenchendo a silhueta dos personagens ou o uso do vermelho para colorir o céu. Em "Sin City" o recurso serviu para estilizar momentos significantes da trama. Já em "The Spirit" é utilizado como recurso rotineiro. A todo momento o diretor parece querer dizer ao espectador: “Olha essa cena que legal, é igualzinha a página dos quadrinhos...”

Ele quis condensar páginas e mais páginas da graphic novel em 1h40 de filme. Miller perde a noção de elipse (supressão do tempo). Ele não sabe o que selecionar para dispor na tela, ao expor longos flashbacks e muitas histórias paralelas. Isso torna o filme prolixo e perdido. O espírito do herói mascarado deveria descansar em paz nas páginas da graphic novel e não o fazer passar vergonha em película.

Intocáveis
Esse desastre mostra que não é qualquer um que pode ter a audácia de adaptar uma obra e que não é toda obra que pode ser adaptada. O que leva a outra versão de HQ: “Watchmen-O Filme”, tida como o quadrinho impossível de ser adaptado. E não é pra menos.

Para quem não conhece a graphic novel terá dificuldade em absorver toda a complexidade da trama sobre vigilantes em um mundo cercado de questionamentos políticos, sociais e morais. Em função disso, “Watchmen” é difícil de ser digerido em 2h40 numa sala de cinema. São muitas indagações e reflexões sobre o mundo, que merecem ser feitas somente nas diversas leituras da HQ. Uma caracterização em carne e osso já é forçar a barra. A produção serve especificamente para o deleite dos fãs da graphic novel e só.

terça-feira, 3 de março de 2009

PRESA À LÍNGUA

Penélope Cruz só consegue se destacar quando se comunica pela língua nativa

Na edição deste ano do Oscar, Penélope Cruz se sagrou ganhadora do prêmio de melhor atriz coadjuvante por “Vicky Cristina Barcelona”, no qual interpreta a amalucada Maria Elena. E ela ganhou justamente por interpretar uma personagem que é latina assim como ela. Penélope é espanhola, de Madrid e fez uma carreira sólida por lá, em produções de Bigas Luna, Alejandro Amenábar e do grande Pedro Almodóvar.

Já quando ela colocou os pés em terreno gringo, a espanhola acabou em papéis secundários. Suas personagens sempre estão associadas a sua origem latina, em função nem tanto pelos traços físicos, mas por causa do carregadíssimo sotaque espanhol, do qual ela não consegue se desapegar. Isso é um problema já que limita a atriz a fazer somente personagens latinas.

Não é à toa que, portanto, ela só consiga se destacar quando interpreta em sua língua mãe. Ela é uma atriz de talento, como pode ser visto nas produções de Almodóvar como, “Volver”, que rendeu a ela sua primeira indicação ao Oscar. E foi porque interpretou em espanhol.

A atriz tem bom terreno para explorar na Espanha. Mas enquanto Penélope não perder o sotaque, vai ser difícil ela fazer bons papéis em filmes americanos. Ela sempre será lembrada por aquela ou outra personagem latina, bonita e de sotaque carregado.