quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ENTREVISTA COM TARIK SALEH

Diretor sueco Tarik Saleh veio a Mostra de Cinema de São Paulo apresentar seu novo filme, "Metropia"
Uma estação de metrô, xampu para caspa e a boneca Hello Kitty juntos em uma teoria conspiratória? Sim. São esses os elementos por trás do original "Metropia". O ano é 2024, o mundo está ficando sem petróleo, e os subterrâneos são conectados por uma gigantesca rede de metrô que integra toda a Europa. Roger vive em Estocolmo e toda vez que Roger entra nessa rede, ouve uma estranha voz em sua cabeça.

Roger fica confuso e suspeita que há uma grande conspiração acontecendo e vai atrás de respostas. Mas essas respostas não serão respondidas de forma fácil. Aos poucos ele vai achando as peças desse quebra-cabeça conspiratório. Uma dessas peças é o xampu Dangst, que possui microchips que se infiltram no cabelo de quem usa. Isso permite o acesso a tudo o que a pessoa ouve e vê. O grande plano é usar uma boneca Hello Kitty para por fim as maquinações daqueles que querem dominar a população.

Tarik Saleh, diretor e roteirista da animação tinha como experiência anterior, a realização de documentários. "Gitmo" trata dos acontecimentos na Baía de Guantánamo, usada para aprisionar terroristas. E em "Sacrificio: Who Betryed Che Guevara", Ciro Bustos, tido como aquele que matou Che, revela a sua versão da história. Saleh conversou com o NO MUNDO DO CINEMA sobre o filme "Metropia".

Qual foi a técnica usada para realizar "Metropia"?"Metropia" é uma animação feita com uma nova técnica, superrealista chamada boneca de papel. Eu até brinco que é até mais realista do que os próprios filmes reais (risos). A técnica é baseada em fotografia, mas não é fotografia. Usamos as texturas das fotos, tiramos os olhos de um, a boca de outro, construindo cada personagem. Ele é em 2D, mas parece 3D.

Como foi a experiência de fazer uma animação?A impressão que se tem é de trabalhar de forma muito lenta. Cada animador, animava 12 segundos do filme, por semana. E como diretor, você trabalha em câmera lenta. As pessoas se espantam ao saberem que eu passei seis anos fazendo este filme. E não entendo (risos). A maioria das pessoas passa a vida inteira em um emprego que odeia. Eu adoro fazer filmes, então para mim não é problema ficar seis anos fazendo algo que eu amo. Poderia ficar 12 anos... (risos). Para mim, o mais importante nas animações é mostrar as sensações e diferentes emoções em imagens. Na animação isso é possível.

Como é o processo de realização de filmes na Suécia?Nós fazemos co-produções com muitos países e temos um orçamento bem baixo. Metropia foi um projeto de US$ 5 milhões e isso não é nada para realizar uma animação. O financiamento vem de uma comissão de editores, investidores e fundos que recebemos do Swedish Film Institute. A situação tem sido boa nos últimos anos. Desde a morte de Ingmar Bergman, é como se os diretores tivessem finamente aparecido. Eu adoro o trabalho dele, mas há uma geração tentando ser Bergman, e não é possível, só há um Bergman. Quando ele morreu, os diretores passaram a fazer coisas diferentes das que ele fazia.

Como o público sueco recebe os filmes locais?É algo abstrato. Nós não pensamos em número de espectadores. Se uma pessoa gosta do meu filme, já basta. Uns acham que filmes suecos são estúpidos filmes suecos (risos). Na verdade, os suecos não gostam muito dos filmes do Bergman. O resto do mundo adora, acha exótico, gosta de ver os dramas de mulheres histéricas... Mas na Suécia, as pessoas pensam: “Nossa, essa mulher parece a minha mãe!” (risos).

Antes de "Metropia", você fez documentários com temas políticos. Como foi trabalhar com esse gênero?Eu adoro trabalhar com documentários. Fazer documentários é ter uma ideia sobre o mundo e começar a olhar o mundo especificamente por essa lente. Muitas pessoas acham que documentário é mostrar a realidade. Mas não é. Algumas vezes ficamos com medo de pessoas do poder, porque elas ficam muito irritadas. Eu fiz "Gitmo", sobre a Baía de Guantánamo e toda vez que vou aos Estados Unidos, sempre sou interrogado. Mas sempre digo que sou apenas um cineasta (risos). Os militares ficaram muito irritados por causa das informações contidas no filme. Não tínhamos noção de que seria algo tão ruim. O filme provocou curiosidade, os americanos queriam saber o que diabos acontecia em Guantánamo. Então quando decidi filmar "Metropia" queria fazer um filme de “comédia” (risos).

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