segunda-feira, 28 de junho de 2010

POR TRÁS DA FEBRE


Cultuado por uma multidão em todo mundo, fenômeno "A Saga Crepúsculo" promete reascender a paixão dos fãs com "Eclipe", terceira parte da trama vampiresca que estreia em junho

Segundo o dicionário da língua portuguesa Aurélio, fã é um admirador exaltado de certo artista de rádio, cinema, televisão etc. Com base nesta definição, fica fácil encontrar pessoas que, independente da área de atuação, admiram alguém a ponto de não enxergar nenhum defeito nela e até mesmo sair em sua defesa... São ações que mais parecem de alguém apaixonado, que se dedica de corpo e alma ao ídolo, em um tipo de adoração que pode ser solitária ou dentro de fãs-clubes. A única certeza é o amor incondicional do fã para com seu ídolo.

Na história da música, por exemplo, houve – e ainda haverá – casos de histeria dos fãs como o que aconteceu no passado com, por exemplo, The Beatles e Elvis Presley, e mais recentemente com os meninos do Jonas Brothers. No cinema, a histeria coletiva tem se demonstrado pelos fãs de "A Saga Crepúsculo". Esta turma esta prestes a viver momentos de euforia total. Tudo por conta da estreia de Eclipse, o terceiro capítulo da Saga que intensifica o triângulo amoroso entre Bella, Edward e Jacob.

A histeria coletiva tem se demonstrado entre os fãs de "A Saga Crepúsculo". “O único filme de que me lembro que suscitou isoladamente tanta paixão em massa foi Titanic. De resto, o que se viu foram “fanatismos” em torno de filmes de gêneros mais específicos, entre o cult e o nerd, como as franquias Star Trek e O Senhor dos Anéis ou o clássico da meia-noite Rock Horror Picture Show, ou cultos a atores específicos, de James Dean a Brad Pitt, de Marilyn Monroe a Angelina Jolie”, afirma Christian Petermann, crítico de cinema.

O romance entre um vampiro e uma humana saído dos livros da escritora Stephenie Meyer se tornou cultuado no mundo literário, mas foi no cinema que o culto a "Crepúsculo" ganhou proporções ainda maiores. O motivo está no trio de atores que encarnam os personagens principais: Robert Pattinson, Kristen Stewart e Taylor Lautner.

Garotas chorando e aos gritos são algo comum na rotina do trio. Tamanha comoção fez Pattinson comentar a respeito na revista Entertainment Weekly. “Eu não sei como os Beatles se sentiam, mas imagino que era próximo do que acontece agora. Poucos seres humanos jamais conseguirão experimentar o amor que sentimos nos eventos de Crepúsculo”, revela o galã.

Aqui no Brasil existem vários fã-clubes dedicados aos livros e filmes de "A Saga Crepúsculo". Elídia Zotelli é uma das fundadoras do fã-clube Twilight Universe, que possui cerca de 1200 associados. “Eu gosto mais dos livros, porque têm mais detalhes. Mas é legal ver o filme porque você vê o que imagina na tela do cinema”, conta ela. Denis Marinho, auxiliar, já assistiu a Crepúsculo mais de dez vezes. “Eu gosto do filme porque há um romance. É maravilhoso! No livro você imagina o que acontece, no filme você vê tudo o que foi imaginado. Acho que as pessoas gostam mais do filme porque poucas lêem livros. O filme é mais prático e fácil, por isso virou um fenômeno”.

NO DIVÃ
Para Wimer Bottura, psiquiatra e coordenador do Cine Debate da Associação Paulista de Medicina, um dos fenômenos que dão sentido a existência do fã é a capacidade dele se identificar e se projetar no outro. “O ídolo é aquele que não impede que o possível fã se projete e se identifique com ele”, explica Bottura.

O psiquiatra analisa os sentimentos de um fã como uma necessidade de ter um ídolo para alcançar a sua identidade. O amor platônico é uma projeção a vida do fã. Isso se torna real a partir da projeção. “O fã não se vendo como um ser em sua unidade, precisa de algum ídolo para adquirir uma identidade. Podemos dizer que o ídolo é uma tela onde o fã projeta toda sua problemática e fantasia para se tornar um ser com vida. O ídolo dá, não como uma doação espontânea ou voluntária, a possibilidade do fã ser uma pessoa”, fundamenta ele.

Para o psiquiatra, não é sadio cultivar a adoração extrema por um ídolo. “Não é saudável, nem individualmente, e muito menos socialmente, mas seria pior se as pessoas carentes de uma identidade própria não tivessem um ídolo para identificar-se. Pior seria se identificar com ídolos como Hitler, Stalin etc...”, resumi Bottura.

TORCIDA ORGANIZADA
A fixação pela "Saga Crepúsculo" não atinge somente os jovens. Um trio de amigas com seus mais de 30 anos fizeram questão de conferir Lua Nova em primeira mão numa sessão da meia-noite em novembro passado. Leila Giacomello, Simone Leitão e Alexandra de Farias vestiam camisetas representando os times Edward e Jacob. Simone era a única que usava a camiseta Team Jacob. “Não é que eu não goste do Edward, mas o Jacob é o oposto do Edward. Apesar de todos os problemas da vida dele, na luta entre vampiros e lobisomens, ele não perde o bom humor e o otimismo. O Jacob é impulsivo, ele vai e resolve. Eu gosto disso nele!”, sai Simone em defesa do personagem.

Para Leila, os filmes são a imaginação concreta na tela. “Você visualiza o Edward na forma como é o Robert Pattinson. Hoje eu não imagino nenhum outro ator interpretando o Edward. Ele já está na mente dos fãs”. A cena favorita dela em Crepúsculo é quando Edward entra no refeitório da escola. “Eu vejo essa cena várias vezes! É uma entrada triunfal, mágica! Quando ele entra, ele causa”, empolga-se ela.

As amigas Roberta Filgueiras e Rebeca Monteiro não leram os livros da série confessando preguiça, mas aprovaram os filmes. “Os filmes são bem feitos e tem muitos atores bonitos (risos). Mostra um amor verdadeiro! Eles lutam por aquele amor, que parece ser impossível, mas eles correm atrás para ficarem juntos”, afirma Roberta. Rebeca é mais direta e logo diz que o que mais gosta no filme é o Edward. “O Edward é o namorado que toda mulher quer ter. Um homem que luta por você. A história de amor deles é linda”, derrete-se Rebeca.

Mas as amigas Natasha Kiwasinei e Jessica Oliveira não bancam o tipo descabeladas pelo ídolo. “Eu não gosto da tietagem, todo mundo gritando. Acho um exagero”, fala Natasha. “Eu acabei gostando do Robert Pattinson, mas nada desesperado”, diz Jessica.Para Petermann o filme cumpre um dos papeis do cinema, que é de entreter. “E incompreensível o fascínio que as jovens sentem por um insosso e apático Robert Pattinson. Mas nada disso incomoda seu autêntico público-alvo. Eclipse vai bombar em junho!”, completa ele. Essa é a chamada magia do cinema.

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