sexta-feira, 4 de junho de 2010

RETRATOS PRESIDENCIÁVEIS

Oliver Stone banca o cineasta propagandista com o documentário "Ao Sul da Fronteira"

Militar, índio, mulher, bispo, metalúrgico. São essas as caras que governam os principais governos da América Latina. Tais figuras chamam atenção do mundo pela forma como lideram suas nações. Eles também chamaram atenção do diretor norte-americano Oliver Stone, que já tratou de política e guerras em seus filmes como “JFK - A Pergunta que Não Quer Calar”, “Nixon”, “Platoon” e “Nascido em 4 de Julho”.

No documentário “Ao Sul da Fronteira”, Stone viaja a alguns países latino-americanos para retratar o cenário político do continente nos últimos 15 anos. Ele entrevista os presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Cristina Kirchner (Argentina), Fernando Lugo (Paraguai), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Raul Castro (Cuba) e Rafael Correa (Equador).

O fato de um cineasta norte-americano analisar a política latino-americana é algo que poderia render um ótimo material. Poderia, pois não é isso que Stone faz com “Ao Sul da Fronteira”. Com sua carapaça politicamente engajada e questionadora, e munido de um tradutor lá foi o Sr. Stone para uma conversinha tête-à-tête com os líderes.

O gênero documentário é um instrumento para se fazer asserções sobre algo. “Ao Sul da Fronteira” tenta seguir os estilos clássico e verdade com o cunho educativo, o uso de voz over e entrevistas para haver a interatividade. É a partir da interatividade que se chega a reflexão. Mas Stone se perde nesse território. Ele não consegue estabelecer que asserções pretende fazer ao espectador e não propõe ao espectador a fazer uma reflexão sobre o que foi visto.

“Ao Sul da Fronteira” se tornou um instrumento de propaganda para Chávez, que de bobo não tem nada, se aproveita da presença das câmeras de Stone para mostrar seu lado mais humano e dar umas cutucadas em George W. Bush. Stone se deslumbra com a faceta do ditador no poder há 18 anos, que não se cansa de pregar que o socialismo é o único caminho para a Venezuela.

A maior parte do filme é dedicada a Chávez, usando imagens de arquivo para mostrar como o militar chegou ao poder. Evo Morales aparece depois com mais destaque. O restante dos presidentes aparecem rapidamente dando algumas declarações. Quando chega a vez de Lula, ele fala apenas que não tem interesse em brigar com os Estados Unidos, que os líderes latinos estão mudando o patamar político da região e que pela primeira vez, os pobres estão sendo respeitados.

O cineasta trata de três temas: a forma como a mídia americana enxerga a política latino-americana, o papel prejudicial do Fundo Monetário Internacional (FMI) no cenário político desses países e os presidentes em seus momentos cândidos. Mas ele não chega a um consenso sobre o que quer de fato afirmar. Os dois primeiros temas se perdem e abrem espaço para o terceiro.

Na verdade, o documentário só existe para Oliver Stone dizer que ele, um norte-americano conseguiu chegar perto de líderes polêmicos da região do sul da América. Foi ele que conseguiu ver de perto a forma como esses líderes vivem. Stone parece se vangloriar de que ele viu Chávez andar de bicicleta na casa em que cresceu, que aprendeu a mastigar folha de coca com Morales e que descobriu quantos pares de sapato Kirchner tem. Na tentativa de fazer um retrato íntimo dos presidentes latino-americanos, Stone mais parece a Angélica, apresentando “Estrelas”, querendo mostrar a intimidade de um famoso. Só faltou ele fazer um churrasquinho com o Lula e provar a cachaça ao som de um um samba.

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