sexta-feira, 4 de março de 2011

TRABALHO NA RAÇA

Produtor Marcos Prado revela os desafios para colocar "Tropa de Elite 2" no cinema e no home video e as chances do filme no mercado internacional

A produção "Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora É Outro" conta com uma equipe de parceria vinda do primeiro, lançado em 2007. Marcos Prado, produtor dos dois filmes da série agora se prepara para lançar seu primeiro longa-metragem de ficção: "Paraísos Artificiais" com José Padilha – diretor de "Tropa 1" e "2" – como o produtor. O filme aborda o universo das festas raves e do consumo de drogas. Os dois são parceiros de longa data, além dos filmes "Tropa", Prado produziu o documentário "Ônibus 174", de Padilha.

Prado finaliza agora a edição do longa no que chama de “corrida contra o tempo”, pois "Paraísos" participará do Amsterdam Film Festival, que anuncia os ganhadores no dia 31 de maio. Ele interrompeu a “corrida” para conversar com o NO MUNDO DO CINEMA, sobre o trabalho realizado em 'Tropa de Elite 2" e o futuro do filme no mundo cinematográfico.

Como nasceu o fenômeno “Tropa de Elite”? Em 2007, quando o primeiro filme foi lançado, vocês tinham ideia do sucesso que a produção faria e o quanto isso cresceria com o segundo?
Por causa da pirataria do primeiro filme, a mídia espontânea que tivemos por três meses, a polêmica em relação ao conteúdo e a forma, as pessoas acusando o filme de fascista, maniqueísta e outras amando o filme... Isso virou um assunto, uma coisa partidária. Quando pensamos em fazer o segundo filme, nós achávamos que nó mínimo teríamos o mesmo público do primeiro: 2,5 milhões de espectadores. Preparamos um plano de negócios e fizemos uma pesquisa de mercado. As sequências de sucesso quase sempre fazem o mesmo número ou um pouco melhor que o primeiro. Projetamos dois cenários: pessimista com o número que deu o "Tropa 1" e o otimista contando com as 11,5 milhões de pessoas que segundo o Datafolha e o IBOPE assistiram a versão pirata. Colocamos na internet o trailer e a partir dele percebemos que tínhamos um potencial. Inicialmente iríamos lançar o filme com 600 cópias, que já era algo audacioso e terminamos com quase 790. A resposta que o trailer teve no YouTube deu uma força para nos arriscarmos.

O que mudou na parte prática para a produção entre o primeiro e o segundo filme?
Na produção sabíamos que teria de ser feita uma ação que imprimisse verdade. Tanto o 1 quanto o 2 misturam ação com conteúdo. Não partimos para fazer o segundo filme porque era uma boa oportunidade de negócio. Existia toda a temática das milícias que não havia sido explorada. Vimos que tinha muita coisa para ser contada, fazer o Nascimento passar da visão que tinha de dentro do quartel da Polícia Militar para dentro da política.

Qual você diria que foi o maior desafio para filmar "Tropa 2"?
Conseguimos apoio de todas as instituições, do governo municipal e estadual. Imprimimos muita verdade. Filmamos dentro do quartel do Bope. Eles nos apoiaram integralmente. Tinha um Caveirão quebrado, consertamos ele e usamos na cena da invasão no Morro Dona Marta. A Polícia Civil alocou o helicóptero para outra sequência. A dificuldade foi conseguir todos esses apoios. Fizemos diversas reuniões explicando a importância de trazer essa temática para a população. Foi bem trabalhoso, não foi de uma hora para outra. Outra questão era quanto a nossa decisão de distribuir o filme sozinhos.

Como veio essa decisão de controlar todo o lançamento por meio da própria Zazen Produções, incluindo a distribuição independente nos cinemas e em vídeo?
O primeiro filme foi distribuído pela Universal Pictures e quando apresentamos o plano de negócios, ela não quis participar. Era um projeto muito complexo e ela achou que estávamos sendo um pouco audaciosos e assim nos tornamos os donos de todos os direitos do filme. Em vez de nos associarmos a outra distribuidora, decidimos fazer nós mesmos. Achamos um expert no mercado que é o Marco Aurélio Marcondes, que já foi sócio da Europa Filmes, ajudou a fundar a Globo Filmes. Ele tem um know how muito grande em lançar filmes. Nós o contratamos para ele ser o coordenador de lançamentos, montamos uma micro distribuidora aqui mesmo na Zazen e capitaneados por Marcondes fomos estudando o tamanho do lançamento, apostamos tudo e deu certo.

Como foi montada a equipe de produção do filme?
Procuramos repetir a fórmula com os mesmos técnicos do primeiro "Tropa". A direção de arte mudou um pouco com o Tiago Marques Teixeira. O primeiro foi tão difícil de fazer, corremos tanto risco nas favelas dominadas pelo poder paralelo e isso fez com que a equipe ficasse muito unida. Agregamos uma nova equipe de produção, mas repetimos todos os técnicos: som, maquiagem, figurino, inclusive os estrangeiros que haviam feito os efeitos especiais do "Tropa 1".

Quanto a escolha do elenco, quais foram as escolhas mais fáceis e quais deram mais trabalho?
Wagner Moura! (risos). Foi convencê-lo a fazer o 2 (risos). Antes de fazer a sequência pensávamos em produzir uma minissérie. As emissoras começaram a propor isso, tinha a dúvida em fazer e o Wagner também não queria. Passaram uns dois anos quando houve a ideia de fazer o 2. Apresentamos a ele como seria o personagem, já que não seria uma continuação simplesmente. O Wagner se interessou vendo que não seria uma repetição do personagem. Era um elenco grande com mais de 100 pessoas, o Rafael Salgado [assistente de direção] e a Fátima Toledo [preparadora de elenco] ajudaram muito. Foi um longo processo, tudo é muito difícil no cinema (risos).

Segundo dados fornecidos pelo Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas do Município do Rio de Janeiro (SEDCMRJ), na segunda semana de 2011, "Tropa de Elite 2" ainda estava em cartaz e contabilizava público de mais de 11,2 milhões de espectadores. A que você atribui tal marca?
Só tem uma coisa que leva as pessoas ao cinema que é o boca-a-boca. Alguém gosta e recomenda o filme. Não adianta colocar toneladas de anúncios e propagandas, isso só ajuda no começo. A qualidade dele é que faz esse sucesso. Já tínhamos a vantagem do primeiro filme e até brincamos que nunca saberemos se a pirataria dele foi ruim para nós. Mais de 11 milhões de pessoas tinham assistido a versão pirata. O Ibope calculou que 70% dos brasileiros tinham ouvido falar do Capitão Nascimento e isso se alastrou pelo Brasil. Grande parte desse sucesso se deu por causa do "Tropa 1".

Muito se fala sobre o fato de "Tropa de Elite" ainda não ter sido lançado em Blu-ray. Existe alguma chance de vermos o filme de 2007 nesse formato no futuro próximo?
Prado – Esperaremos um pouco. Primeiro vamos terminar de lançar todos os subprodutos do Tropa 2. Temos um documentário sendo montado sobre "Tropa 1" e "2" e que vai ser lançado no cinema e por isso vamos esperar um pouco.

Os fãs podem esperar por um box com os dois filmes em breve?
Mais para frente podemos fazer um lançamento duplo, um produto diferenciado. Mas esse documentário do qual falei ainda está sendo montado, vai ser o primeiro filme do Alexandre Lima, que começou aqui na Zazen. Ele fez todas as filmagens do making of dos dois filmes e está montando toda a saga que foi realizar essas duas produções. As pessoas gostam tanto das duas e vai poder entender os bastidores, como foi preparar o personagem do Wagner Moura, são muitos detalhes, tem muita coisa que aconteceu nesse ínterim e pode ser um material de interesse do público.

Falando sobre a carreira internacional de "Tropa 2", ele já foi exibido no Festival Sundance de Cinema. Quais outros eventos internacionais o filme participará?
Agora estamos mostrando o filme nos Estados Unidos para alguns distribuidores. Existe a possibilidade de se fazer um lançamento independente com empresas menores para tentar pegar o mercado de brasileiros e latinos. Estamos ouvindo propostas. O filme participou do Festival de Berlim na mostra Panorama e lá ouvimos outras propostas. Calmamente vamos para os festivais e deixar o "Tropa" conquistar o mundo !

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