quinta-feira, 10 de julho de 2014

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL


O filme  “Deus e o Diabo na Terra do Sol" completa 50 anos. Para comemorar, confira a análise  da produção

Os aspectos sempre marcantes nos filmes do cineasta Glauber Rocha são a fotografia e a mise-en-scène (encenação). Em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, a luz estourada representa a seca do Nordeste. O diretor alterna planos longos mostrando a imobilidade, com planos curtos expondo a precipitação. Ele utiliza enquadramentos marcados, com a exploração de planos gerais, no qual permite uma mise-en-scène teatralizada. A movimentação dos atores é bem demarcada.

A tônica do filme é a religiosidade. A mise-en-scène vai dar ênfase a isso, com o movimento de câmera e a encenação, que evocam o divino. A panorâmica vertical de cima para baixo representa a divindade, que no filme se expressa pelo fanatismo ao messianismo. O uso de símbolos religiosos na encenação, como a cruz e os terços também servem para denotar a religiosidade.

Para explicitar há uma interessante sequência para se observar isso. Manoel (Geraldo Del Rey) e Rosa (Yoná Magalhães) vagam pelo sertão após ele matar o patrão. Em busca de justiça, o casal tenta achar uma saída na religiosidade e no banditismo. A abertura do filme traz um plano geral que apresenta os créditos de abertura. Ali se faz o uso da panorâmica horizontal aérea, que mostra o espaço do sertão.

Em seguida parte-se deste plano geral para o detalhe no close de um animal morto e o olhar descrente de Manoel em meio ao nada (uso de plano-sequência do vaqueiro olhando para o lado e então ele se levanta e caminha em direção ao seu cavalo, que está atrás dele. Manoel olha para a câmera e sobe no cavalo. Ele cavalga no sertão árido e vai se distanciando da câmera). Acabam-se os créditos.

Parte-se então para a próxima cena com uma panorâmica vertical lenta de cima para baixo, em que se mostra o céu e depois as pessoas na terra rezando. Em seguida há um plano geral das pessoas se ajoelhando ao santo Sebastião. Há uma divisão entre céu e terra (os dois universos são visíveis no plano).

No próximo plano, Manoel vem de longe cavalgando, quase invisível, até chegar próximo ao campo de visão. Mais uma vez é mostrado o horizonte, demarcado entre o céu e a terra. Ele para e vê o grupo de religiosos. Utiliza-se o campo e contracampo para mostrar alternância de pontos de vista de Manoel e de Sebastião, com o uso da câmera subjetiva.

O vaqueiro olha para o santo, mas esse continua seguindo seu olhar para frente, o santo não dirige o olhar a Manoel. Para fechar esta sequência, há um plano-sequência geral em que Manoel para e o grupo continua a sua caminhada, e o vaqueiro vai embora no sentido inverso.

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